Sublime ação é sempre a da
caridade. Toda e qualquer atividade que promove e dignifica a criatura humana é
valiosa contribuição em favor do progresso da sociedade. É inerente ao homem e
à mulher a generosidade , esse sentimento de prodigalidade, em face da sua
procedência espiritual. Mesmo quando se encontra em fase inicial do processo
evolutivo, predominando-lhe os instintos agressivos, o despertar dos
sentimentos sob o comando do amor induz a essa faculdade. Inicialmente,
apresenta-se como impulso desconexo, sem lucidez nem profundidade do seu
significado, começando a desabrochar e expressar-se de maneira diferente,
vitalizando todos os gestos edificantes. Ei-la – a generosidade – em forma de
humanitarismo, no qual a presença solidária favorece a harmonia, o bem-estar,
contribuindo para tornar melhor a vida daqueles que lhe são beneficiá- rios.
Noutra circunstância, surge como atitude compassiva, evitando julgar com
impiedade aquele que se envolve em atitudes infelizes, desculpando a ignorância
que nele jaz ou o atraso que o conduz, sem permitir-lhe uma existência digna.
Alonga-se em forma de altruísmo, quando adiciona a renúncia e o interesse pela
recupera- ção ou promoção do seu próximo, mantendo-se feliz pela oportunidade
de auxiliar.
Engrandece-se a partir do momento
em que descobre a emoção superior que se deriva da ação de socorre a
necessidade do rebelde ou atormentado, passando a educá-lo e a dignifica-lo,
embora ele estorcegue nos cipoais da loucura a que se entregou. É o alento que
sustenta o ideal de edificar o bem com desinteresse pessoal, quando medram o
egoísmo e a insensatez. Ao produzir a abnegação e o devotamento que a
sensibilizam, emoldurando os seus atos com ternura e amor avança triunfalmente
pelo caminho de serviço e transforma-se na virtude por excelência – a caridade.
A caridade é como uma peregrina luz que necessita de combustível, a fim de que
continue brilhando, derramando claridade em derredor. A sua chama crepita,
esparzindo calor que altera o clima gélido da indiferença e proporciona
reconforto, graças ao qual a existência humana volta a adquirir coragem e
valor. A fim de que alcance o objetivo a que se destina, não pode, porém,
prescindir da fé, especialmente a de natureza religiosa, pelo conteúdo de
espiritualidade de que se reveste. Essa visão espiritual que dá sentido à vida
torna-a grandiosa em face da sua perenidade. Enquanto se observa a
transitoriedade, as modificações que experimentam os seres na sua forma física,
material, a convicção a respeito do prosseguimento da vida após o túmulo,
proporciona uma visão profunda e um significado transcendente para a ação
caridosa. Na árvore da existência humana, podemos considerar a fé como a flor
exuberante de onde se origina o fruto nutriente da caridade. Toda frutescência
é antecedida pelo enflorescimento. A seiva dessa árvore, no entanto, procede do
Pai Criador, que lhe dá origem e lhe preserva a continuidade, sustentando-a de
acordo com a qualidade da produção. A caridade manifesta-se de forma natural,
sem mesclas de ganho imediato ou remoto, não possuindo qualquer expressão
egoística, mantida pelo amor que se distende generosos como dá- diva de Deus. É
semelhante a perfume carregado por brisa abençoada e converte-se em alimento
para a alma. Sem a presença da caridade no mundo, as conquistas da inteligência
e da cultura não bastariam para arrancar o ser humano do caos de si mesmo. A
caridade vela silenciosa e enriquecedora pelas vidas, apresentando-se quando
tudo aparentemente se apresenta sem esperança, numa terrível conspiração contra
a dignidade e a alegria. Ela ergue o tombado e caminha sustentando o trôpego.
Nunca se cansa, nem exige nada. É jovial e gentil, não se jactando nem se
impondo em momento algum, mantendo-se em clima de harmoniosa convivência com os
fatores gerados pelo Bem. Enquanto viceje no mundo, pode-se ter certeza de que
o Pai Generoso continua amparando os Seus filhos. Conforme sucede com as demais
denominadas virtudes, medra espontaneamente, depois se instala no ser,
acompanhando-o durante todo o seu processo evolutivo.
Apesar disso, para que se
possa estabelecer como parte integrante da existência, hábito superior de
conduta, torna-se necessário exercitá-la, iniciando o ministério com pequenos
gestos de bondade e de afabilidade, de compaixão e de misericórdia para com o
próximo, até insculpir-se como essencial à existência. Tem como objetivo não
apenas o ser humano, mas abrange todas as expressões vivas que existem, bem
como a Natureza em si mesma, aos quais infunde ânimo e oferece apoio. Em
relação, porém, ao próximo, tem finalidade precípua, porque exaltada por Jesus
na Sua incomparável parábola do bom samaritano, quando tudo era adverso ao
caído e não praticado pelo estrangeiro, que se torna o anjo dotado de amor e de
bondade, que o arranca do abandono, atende-o e resguarda-o de todo e qualquer
perigo, com esforço e sacrifício pessoal, sem pensar em si mesmo, embora
sabendo-se detestado. A caridade jamais se detém privilegiando uns em
detrimento de outros, elegendo aqueles que compartilham da mesma grei ou do
mesmo grupo, antes alcançando os opositores, os adversários, aos quais trata
com dignidade e sem diferença alguma em relação ao partido a que pertencem, aos
interesses que cultivam, às crenças que professam. Por isso, é ação sublime. A
sublime ação da caridade altera o comportamento do beneficiado, tornando-se lhe
companheira afável, permanecendo como vitalidade do amor que sempre nutre. As
ações de benemerência e de solidariedade revelam o nível de progresso moral do
indivíduo e de um povo, avançando para a elevada expressão de caridade conforme
Jesus a pregou e a viveu em todos os momentos, antes e depois da Sua morte.
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