A Gênese Orgânica - Cap. 9
Formação primária dos seres vivos
O estudo das camadas geológicas revela que cada espécie
animal e vegetal surgiu simultaneamente em vários pontos do globo, bastante
afastados uns dos outros, o que atesta a previdência divina, garantindo
condições de sobrevivência apesar das vicissitudes a que estavam sujeitas.
A grande Lei de unidade que rege a formação dos corpos
inorgânicos preside também a criação material dos seres vivos. A combinação de
substâncias elementares como o oxigênio, hidrogênio, carbono, azoto, cloro,
iodo, flúor, enxofre, fósforo e todos os metais, formam as substâncias
compostas tais como os óxidos, ácidos, álcalis, sais que por sua vez combinados
resultam em inúmeras variedades, estudadas em laboratórios pela Química e
operadas "em larga escala no grande laboratório da Natureza."
A composição dos corpos ocorre quando existem condições
favoráveis como grau de calor, umidade, movimento ou repouso, corrente
elétrica, etc, e em função da afinidade molecular de seus princípios
elementares que se combinam guardando proporções definidas.
Na origem da Terra os princípios elementares apresentavam-se
volatilizados no ar. Com o gradativo resfriamento e sob condições favoráveis,
precipitaram-se formando combinações donde resultaram as variedades de
carbonatos, sulfatos, etc.
A cristalização é o notável fenômeno resultante da passagem
do estado líquido ou gasoso para o sólido assumindo formas regulares de sólidos
geométricos tais como, de prisma, cubo, pirâmide. A forma geométrica do corpo
corresponde à das moléculas componentes e somente ocorre o fenômeno diante de
condições específicas de grau de temperatura e repouso absoluto.
No reino animal e vegetal a composição básica é a mesma dos
corpos inorgânicos, principalmente o carbono, oxigênio, hidrogênio, azoto, de
cujas combinações e variadas proporções resultam as inúmeras substâncias
orgânicas, desde que encontrem circunstâncias propícias no meio em que se
desenvolvem. Alterando-se as condições do meio, diminui ou cessa o
desenvolvimento da vida orgânica até que novamente haja as condições ideais
para o ressurgimento da vida. Cada espécie de cristal assim como cada espécie
orgânica se reproduzem segundo forma e cores semelhantes, por estarem sujeitas
à mesma Lei.
Princípio vital
Uma molécula composta por ex. de carbono, hidrogênio,
oxigênio e azoto, poderá resultar em um mineral ou, se estiver modificada pelo
princípio vital, resultará em uma molécula orgânica. Ao se formarem, portanto,
os seres orgânicos assimilam o princípio vital que dá às moléculas propriedades
especiais. Sua atividade é alimentada pela ação do funcionamento dos órgãos
durante toda a vida até sua extinção.
Pode-se comparar o princípio vital à ação da eletricidade,
de modo que os corpos orgânicos seriam como pilhas elétricas que
"funcionam enquanto os elementos dessas pilhas se acham em condições de
produzir eletricidade: é a vida; que deixam de funcionar, quando tais condições
desaparecem: é a morte."
Geração espontânea
Observa-se que no mundo atual o princípio da geração
espontânea aplica-se aos seres de organismo extremamente simples, rudimentar,
do reino vegetal e animal, como o musgo, o líquen, o zoófito, os vermes
intestinais. Muito embora os seres de organização complexa não se reproduzam
espontaneamente, não se sabe como começaram, pois ninguém conhece o segredo de
todas as transformações, entendendo-se assim a teoria da geração espontânea
permanente apenas como hipótese.
Escala dos seres orgânicos
No início da escala situam-se os zoófitos (animais-plantas),
que têm a aparência exterior da planta, mantém-se preso ao solo, "mas como
o animal, a vida nele se acha mais acentuada: tira do meio ambiente a sua
alimentação".
As plantas e os animais têm em comum: nascem, vivem,
crescem, nutrem-se, respiram, reproduzem-se e morrem. Necessitam de luz, calor,
água, ar puro. Enquanto as plantas se mantêm presas ao solo, os animais, um
degrau acima, se movimentam, como os pólipos; após o início do desenvolvimento
dos órgãos, atividade vital e instintos estão os helmintos, moluscos(lesma,
polvo, caracol, ostra), crustáceos(caranguejo, lagosta), insetos (em alguns dos
quais se desenvolve o instinto engenhoso, como nas formigas, abelhas, aranhas).
Segue-se a ordem dos vertebrados (peixes, répteis, pássaros) e os mamíferos
(organização mais complexa).
Se percorrermos a escala degrau por degrau, sem solução de
continuidade, chegaremos da planta aos animais vertebrados, podendo compreender
a possibilidade de que os animais de organização complexa sejam o
desenvolvimento gradual da espécie imediatamente inferior, até chegar ao
primitivo ser elementar. Assim o princípio da geração espontânea aplicar-se-ia
somente aos seres de organização elementar, sendo as espécies superiores
resultantes das transformações sucessivas daqueles. Após adquirirem a faculdade
da reprodução, os cruzamentos originaram novas variedades. A partir daí não
mais havia necessidade dos germens primitivos, pelo que desapareceram. Esta
teoria, que tende a predominar na Ciência, evidencia a causa de não haver
geração espontânea entre animais de organização complexa.
O homem corpóreo
Anatomicamente o homem pertence á classe dos mamíferos,
ordem dos bímanos, com pequenas modificações de forma exterior, porém com a
mesma composição de todos os animais, com órgãos e funções, modos de nutrição,
respiração, secreção e reprodução idênticos. Nasce, vive e morre decompondo-se
seu corpo como toda a espécie animal, quando os elementos irão compor novos
minerais, vegetais e animais.
Os quadrúmanos (animais com quatro mãos, como o orangotango,
chipanzé, jocó) também caminham eretos, usam cajados, constroem choças e se
alimentam usando as mãos. Isso leva a observação de que "acompanhando-se
passo a passo a série dos seres, dir-se-ia que cada espécie é um
aperfeiçoamento, uma transformação da espécie imediatamente inferior".