CAPÍTULO 17
ANTE À
DOR
Quando a alma mergulhou na carne
referta de vibrações, desejou transmitir toda a musicalidade que conduzia
virgem, e para que o tumulto do ambiente não lhe perturbasse a evocação,
perdeu, paulatinamente, os registros auditivos para somente escutar nas telas
da mente os acordes sublimes da natureza e de Deus — e Beethoven ficou surdo!
Para expressar a melancolia suave e a pungente saudade de algo que não se pode
identificar, Chopin experimentou a amargura do coração perdido entre desejos e
decepções. Destinado a ferir as cordas da emoção e tangê-las com habilidade, o
espírito retornou ao palco de antigas lutas para defrontar-se com inimigos
acirrados e vencê-los através da auto-doação, enchendo a Terra de musicalidade
superior. Inquieto, todavia, fraquejando sem cessar, Schumann deixou-se
arrastar pela caudal da obsessão, conquanto fizesse incomparável legado,
através do Lied e das nobres melodias para piano - * * * Oh! dor bendita,
libertadora de escravos, discreta amiga dos orgulhosos, irmã dos santos,
mensageira da verdade, tanto necessitamos do teu concurso, que se nos afiguras
um anjo caído, a serviço da misericórdia para sustentar nos na luta redentora! Ensina-nos
a descobrir a rota da humildade para avançarmos com acerto.
* * * A dor é a mensageira da
esperança que após a crucificação do Justo vem ensinando como se pode avançar
com segurança. Recebamo-la, pacientes, sejam quais forem às circunstâncias em
que a defrontemos nesta hora de significativas transformações para o nosso
espírito em labor de sublimação. O sofrimento de qualquer natureza, quando
aceito com resignação — e toda aflição atual possui as suas nascentes nos atos
pretéritos do espírito rebelde — propicia renovação interior com amplas
possibilidades de progresso, fator preponderante de felicidade. A dor faculta o
desgaste das imperfeições, propiciando o descobrimento dos valiosos recursos,
inexoráveis, aliás do ser. Após a lapidação fulgura a gema. Burilada a aresta
ajusta-se a engrenagem. Trabalhado, o metal converte-se em utilidade. Sublimado
pelo sofrimento reparador o espírito liberta-se. * “De tal modo brilhe a vossa
luz diante dos homens, para que êles vejam as vossas boas obras e glorifiquem a
vosso Pai que está nos Céus. Mateus: capítulo 5º, versículo 16. *
“Daí se segue que nas pequenas coisas, como
nas grandes, o homem é sempre punido por aquilo em que pecou. Os sofrimentos
que decorrem do pecado são-lhe uma advertência de que procedeu mal”. Capítulo
5º — Item 5.
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