Nona Parte - O FUTURO DO HOMEM
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A morte e seu
problema
Fatalidade
biológica, a morte é fenômeno habitual da vida. Na engrenagem molecular,
associam-se e desagregam-se partículas, transformando-se através do impositivo
que as constitui, face à finalidade específica de cada uma. Por efeito, o
mesmo ocorre com o corpo, no que resulta o fenômeno conhecido como morte.
Desinformado
quanto aos mecanismos da forma e da funcionalidade orgânica, desestruturado
psicologicamente, o homem teme a morte, em razão do atavismo representativo do
fim da vida, da consumpção do ser.
Em variadas
culturas primitivas e contemporâneas, para fugir-se à realidade desta
inevitável ocorrência, foram criados cerimoniais e cultos religiosos que
pretendem diminuir o infausto acontecimento, escamoteando-o, ao tempo em que se
adorna o morto de esperança quanto
à sobrevivência.
Em muitas
sociedades do passado, era comum colocar-se entre os dentes dos falecidos uma
moeda de ouro, para recompensar o barqueiro encarregado de conduzi-lo à outra
margem do rio da Vida. Na Grécia, particularmente, este uso se tornou normal,
objetivando compensar a avareza de Caronte, que ameaçava deixar vagando os
não-pagantes, quando da travessia do rio Estige, segundo a sua Mitologia.
Modernamente,
repetindo o embalsamamento em que se notabilizaram os egípcios, nas Casas dos Mortos, busca-se embelezar
os defuntos para que dêem a impressão de vida e bem-estar, assim liberando os
vivos dos temores e das reminiscências amargas. Todavia, por mais se mascare a
verdade, chega o momento em que todos a enfrentam sem escapismo, convidados a
vivenciá-la.
A morte é um
fenômeno ínsito da vida, que não pode ser desconsiderado.
Neuroses e
psicoses graves se estabelecem no indivíduo em razão do medo da morte,
paradoxalmente, nas expressões maníaco-depressivas, levando o paciente a
suicidar-se ante o temor de a aguardar.
Numa análise
psicológica profunda, o homem teme a morte, porque receia a vida. Transfere,
inconscientemente, o pavor da existência física para o da destruição ou
transformação dos implementos que a constituem. Acostumado a evadir-se das
responsabilidades, mediante os mecanismos desculpistas, o inexorável
acontecimento da morte se lhe torna um desafio que gostaria de não defrontar,
por consciência, quiçá, de culpa, passando a detestar esse enfrentamento.
Para fugir,
mergulha na embriaguez dos sentidos consumidores e das emoções perturbadoras,
abreviando o tempo pelo desgaste das energias mantenedoras do corpo físico.
O homem,
acreditando-se previdente e ambicioso, aplica o tempo na preparação do futuro e
na preservação do presente. Entretanto, poderia e deveria investir parte dele
na reflexão do fenômeno da morte, de modo a considerá-lo natural e aguardá-lo
com tranqüila disposição emocional. Nem o desejando ou, sequer, evitando
driblá-lo.
A educação
que se lhe ministra desde cedo, face ao mesmo atavismo apavorante da morte, é
centrada no prazer. nas delícias do ego, nas vantagens que pode retirar do
corpo, sem a correspondente análise de temporalidade e fragilidade de que se
revestem. Graças a essa inadvertência espocam-lhe os conflitos, as fobias, a
insegurança.
Um momento
diário de análise, em torno da vida física, predispõe a criatura a projetar o
pensamento para mais além do portal de cinza e de lama em que se deteriora a
organização somática.
Tudo, no
mundo físico, é impermanente, e tal impermanência pode ser vista sob duas
formas: a exterior ou grosseira, e a interior ou sutil.
Nada é
sempre igual, embora a aparência que preserva nos períodos de tempo diferentes.
Por isto mesmo, tudo se encontra em incessante alteração no campo das
micropartículas até o instante em que a forma se modifica — fase sutil de
impermanência. Um objeto que se arrebenta e um corpo, vegetal, animal e
humano, que morre, passam pela fase da transição exterior grosseira para uma
outra estrutura, experimentando a morte.
A morte,
todavia, não elimina o continuunz da
consciência, após a disjunção cadavérica.
Se, desde
cedo, cria-se o hábito da meditação a respeito da consciência sobrevivente,
independente do corpo, a morte perde o seu efeito tabu de aniquiladora, odienta destruidora do ideal, do
ser, da vida.
O
tradicional enigma do que acontece após a morte deve ser de interesse relevante
para o homem que, meditando, encontra o caminho para decifrá-lo. Deixar-se
arrastar pelo pavor ou não lhe dar qualquer importância constituem comportamentos
alienantes.
A
curiosidade pelo desconhecido, a tendência de investigar os fenômenos novos
são atrações para a mente perquiridora, que encontra recursos hábeis para os
cometimentos.
A intuição
da vida, o instinto de preservação da existência, as experiências psíquicas do
passado e para-psicológicas do presente atestam que a morte é um veículo de transferência do ser
energético pensante, de uma fase ou estágio vibratório para outro, sem
expressiva alteração estrutural da sua psicologia. Assim, morre-se como se
vive, com os mesmos conteúdos psicológicos que são os alicerces (inconsciência)
do eu racional (consciência.)
Nesta
panorâmica da vida (no corpo) e da morte (do corpo) ressalta um fator decisivo
no comportamento humano: o apego à matéria, com as conseqüentes emoções
perturbadoras e extratos do comportamento contaminados, jacentes na
personalidade.
Sob um ponto
de vista, a manifestação do instinto
de conservação é valiosa, por limitar os tresvarios do homem que,
diante de qualquer vicissitude, apelaria para o suicídio, qual acontece com
certos psicopatas. De certo modo, frenado, inconscientemente, enfrenta os
problemas e supera-os com a ação eficiente do seu esforço dirigido
corretamente.
Por outro
lado, os esclarecimentos religiosos, embora a multiplicidade dos seus enfoques,
demonstrando que a morte é período de transição entre duas fases da vida,
contribuem para demitizar o pavor do aniquilamento.
Definitivamente,
as experiências psíquicas, parapsicológicas e mediúnicas, provocadas ou
naturais, têm trazido importante contribuição para eqüacionar o problema da
morte, dando sentido à existência.
Conscientizando-se,
o homem, da continuidade do ser pensante após as transformações do corpo
através da morte da forma, alteram-se-lhe, totalmente, os conceitos sobre a
vida e a sua conduta no transcurso da experiência orgânica.
De qualquer
forma, reservar espaços mentais para o desapego das coisas, das pessoas e das
posições, analisando a inevitabilidade da morte, que obriga o indivíduo a tudo
deixar, éuma terapia saudável e necessária para um trânsito feliz pelo mundo
objetivo.
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A
controvertida comunicação dos Espíritos
O anseio
inconsciente pela sobrevivência do ser consciente à morte física abre as
portas da percepção psíquica, facultando o devassar das sombras do além.
Já não
aspira o homem sorver a água do Letes para o esquecimento, porém sondar o que
ocorre na sua outra margem. E é de lá que têm vindo inesgotáveis informações,
notícias, desafios novos, todos demonstrando a indestrutibilidade da vida, a
sua causalidade e seu finalismo inevitável.
Das
civilizações antigas às modernas, desde as culturas mais primitivas até as mais
bem equipadas de conhecimento e tecnologia, as tumbas descerram as suas lajes
para, rompendo o enganoso silêncio e o falso repouso dos falecidos,
apresentarem suas vozes e ações.
Por mais se
dilatem os arquétipos jungianos até
às suas nascentes, estratificadoras, a sobrevivência os precede, porque foram
aqueles que atravessaram a fronteira, que vieram para elucidar a ocorrência
mortuária, falando sobre a imortalidade a que retornaram.
As suas
lições ensejaram o surgimento da fé religiosa, dos cultos — mesmo os mais
extravagantes — de algumas filosofias e se consubstanciaram nos desafios às
modernas ciências parapsicológicas, psicobiofísicas, psicotrônicas. ainda não
superando a Doutrina Espírita, apresentada por Allan Kardec, resultado de
acuradas observações e experimentos de laboratório, provando a sobrevivência do
ser à sua disjunção cadavérica.
É inerente à
estrutura da vida a sua indestrutibilidade, graças à qual somente há
transformações e nunca aniquilamento.
Partindo-se
deste princípio de imanência, a consciência não se extingue por ocasião da
desorganização cerebral. Independente dela, torna-a instrumento pelo qual se
expressa, mas, não indispensável à sua existência.
Os fenômenos
de ectoplasmia, vidência, psicofonia, psicografia e os mais hodiernamente
estudados pela Metaciência. que se utiliza de complexos aparelhos — spiricon,
vidicom — atestam a continuação e independência do Espírito àmorte do corpo.
Examinadas
com cuidado inúmeras hipóteses para explicá-los, a única a resistir a todo
cepticismo, pelos fatos que engloba, é a da imortalidade da alma com a sua
conseqüente comunicabilidade.
Além dos
produzidos pelo psiquismo humano, ressaltam aqueles que têm gênese nos seres de
outras dimensões, que se fazem identificar de forma exaustiva e clara, não
deixando outra alternativa exceto a sua realidade transcendental, de seres
independentes e desencarnados.
Neste
capítulo se enquadram diversas psicopatias, cujas gêneses resultam de
influências espirituais mediante as quais se abre o campo das obsessões,
igualmente conhecidas desde priscas eras com outras denominações. Esta
influência detetéria dos mortos sobre os vivos tem o seu reverso na que se
opera graças à interferência dos anjos,
dos serafins, dos santos, dos guias espirituais e familiares de inegáveis benefïcios para a criatura
humana, inclusive, na área da preservação e recuperação da saúde.
Cunhou-se,
como efeito imediato, o brocardo que assevera que “os mortos conduzem os
vivos”, tal a ingerência que têm aqueles no comportamento destes.
Eliminando-se, porém, o exagero, o intercâmbio psíquico e físico se dá com mais freqüência entre
eles do que supõem os desinformados. E isto constitui bela página do Livro da
Vida, facultando ao ser pensante a compreensão e certeza da sua eternidade, bem
como ensejando atender as excelentes possibilidades de crescimento
desalienante e a perspectiva de plenitude, fora das conturbações e dos
desajustes que ocorrem no processo de seu amadurecimento psicológico e de seu
autodescobrimento.
A
transitoriedade assume a sua preponderância apenas enquanto vige a existência
corporal de grande significação para estruturar a sobrevivência feliz,
delineando as atividades futuras a ressurgirem como culpa-castigo, tranqüilidade-prêmio, que governam e estatuem os
destinos humanos.
A
consciência, não se aniquilando através da morte, aprimora-se mediante
experiências extrafísicas, que lhe dilatam o campo de aquisição de recursos
capazes de elucidar os enigmas da
genialidade e da demência, da lucidez e da idiotia congênitos.
Este
inter-relacionamento entre o homem e os Espíritos desenvolve-lhe os sentidos
extrafísicos, proporcionando-lhe um desdobramento paranormal, no qual a
mediunidade lhe propicia uma vivência real nas duas esferas vibratórias onde a
vida se apresenta.
Portador
dessa percepção, embora habitualmente embotada, agiganta-se-lhe a área de
sensibilidade psíquica ao educá-la, como se lhe entorpece e turbam outros
campos mentais, se a desconsidera ou se não dá conta da sua existência. O
complexo homem é de natureza transcendental, corporificando-se na forma física
e dissociando-se através da morte, sem surgir de um para outro momento ao
acaso ou desintegrar-se sob o capricho de uma fatalidade nefasta, destruidora.
A Psicologia
profunda vai às raízes deste ser resgatando-o do lodo da terra e erguendo-o da lama do sepulcro, para conceder-lhe a dignidade que merece no
concerto universal, como parte integrante do mesmo.
A única
forma de demonstrar e confirmar a imortalidade da alma é mediante a sua
comunicabilidade, o que oferece consolações e esperanças inimagináveis, por
outro lado facultando ao ser humano lutar com estoicismo graças à meta que o
aguarda à frente, enquanto a consumpção, além de desnaturar a vida, retira-lhe
todo o sentido, o significado, em razão da sua brevidade, isto sem nos
referirmos aos desenlaces precoces, aos natimortos...
A vida vem
aplicando milhões de anos no seu aperfeiçoamento e complexidades, não se
podendo evolar ao capricho da desoxigenação cerebral.
Com esta
certeza esmaece o pavor da morte, desarticula-se a neurose disto advinda,
abrindo um leque de perspectivas positivas para o bem-estar durante a
existência física, prelúdio da espiritual para onde se ruma inexoravelmente.
Os planos agora já não se limitam nas balizas próximas impeditivas, antes se
dilatam encorajadores, no prosseguimento da evolução.
Deste modo,
as controvérsias sobre a sobrevivência vão cedendo lugar à afirmação da vida,
especialmente agora, quando se desdobram as terapias alternativas na área da
saúde, que recorrem às memórias do passado, aos substratos da mente precedente
ao corpo, mediante as quais o continuum
da consciência não sofre interrupção com a morte orgânica nem surge com
o seu renascimento.
A vida
predomina, prevalece em toda parte, sempre e vitoriosa.
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O modelo organizador
biológico
O homem é,
deste modo, um conjunto de elementos que se ajustam e interpenetram, a fim de
condensar-se em uma estrutura biológica, assim formado pelo Espírito — ser
eterno, preexistente e sobrevivente ao corpo somático —, o perispírito —
também chamado modelo organizador
biológico, que é o “princípio intermediário, substância semimaterial que
serve de primeiro envoltório ao Espírito e liga a alma ao corpo. Tais, num
fruto, o germe, o perisperma e a casca”(*) — e o corpo — que é o envoltório
material.
Estes
elementos mantêm um inter-relacionamento profundo com os respectivos planos do
Universo.
O
perispírito, também denominado corpo
astral, é constituído de vários tipos de fluidos (energia) ou de
matéria hiperfísica, sendo o laço que
une o Espírito ao corpo somático.
Multimilenarmente
conhecido, atravessou a História sob denominações variadas. Hipócrates, por
exemplo, chamavao Enormon, enquanto
Plotino o identificava como Corpo Aéreo
ou Ígneo. Tertuliano o indicava como Corpo Vital da Alma, Orígenes como Aura, quiçá inspirados no apóstolo Paulo que o referia como Corpo Espiritual e Corpo Incorruptível. No
Vedanta ele aparece como Mano-ntaya-Kosha
e no Budismo Esotérico é designado por Kainarupa. Os egípcios diziam-no Ka e o Zend Avesta aponta-o por Baodhas, a Cabala hebraica por Rouach. É o Eidôlon do
Tradicionalismo grego, o miago dos
latinos, o Khi dos chineses, o Corpo sutil e etéreo de Aristóteles...
Confúcio igualmente o identificou, chamando-o Corpo Aeriforme e Leibnitz qualificou-o de Corpo fluídico... As variadas épocas
da Humanidade defrontaram-no e por outras denominações ele passou a ser aceito.
De
importância máxima no complexo humano, é o moderno Modelo organizador biológico, que se encarrega de plasmar no
corpo físico as necessidades morais evolutivas, através dos genes e
cromossomos, pois que, indestrutível, eteriza-se e se purifica durante os
processos reencarnatórios elevados.
Pode-se
dizer, que ele é o esboço, o modelo, a forma em que se desenvolve o corpo
físico. E na sua intimidade energética que se agregam as células, que se
modelam os órgãos, proporcionando-lhes o funcionamento. Nele se expressam as
manifestações da vida, durante o corpo físico e depois, por facultar o
intercâmbio de natureza espiritual. É o condutor da energia que estabelece a
duração da vida física, bem como e responsável pela memória das existências
passadas que arquiva nas telas sutis do inconsciente
atual, facultando lampejos ou recordações esporádicas das existências
já vividas.
O filósofo
escocês Woodsworth estudando-o, disse que éo Mediador plástico “através do qual passa a torrente de matéria
fluente que destrói e reconstrói incessantemente o organismo vivo.”
Na sua
estrutura de energia se localizam os distúrbios nervosos, que se transferem
para o campo biológico e que procedem dos compromissos negativos das
reencarnações passadas.
Igualmente
ele responde pelas doenças congênitas, em razão das distonias morais que conduz
de uma para outra vida. Por isso mesmo, trata-se de um organismo vivo e pulsante, sendo constituído por trilhões de
corpos unicelulares rarefeitos, muito sensíveis, que imprimem nas suas intrincadas
peças as atividades morais do Espírito, assinalando-as nos órgãos
correspondentes quando das futuras reencarnações.
Veículo
sutil e organizador, é o encarregado de fixar no organismo os traumas
emocionais como as aspirações da beleza, da arte, da cultura, plasmando nos
sentimentos as tendências e as possibilidades de realizá-las.
Graças à sua
interpenetração nas moléculas que constituem o corpo, exterioriza, através
deste, os fenômenos emocionais — carmas —, positivos ou não, que procedem do
passado do indivíduo e se impõem como mecanismos necessários àevolução.
Comandado
pelo Espírito mediante automatismos nas faixas menos evoluídas da Vida, pode
ser dirigido consciente-mente, desde que se encontre liberado dos impositivos
dos resgates dolorosos, no processo da aprendizagem compulsória.
Quanto mais
o homem se espiritualiza, domando as más inclinações e canalizando as forças
para as aspirações de enobrecimento e sublimação, mais sutis são as suas
possibilidades plasmadoras, dando gênese a corpos sadios, emocional e
moralmente, em razão do agente causal estar liberado das aflições e limites
purificadores.
O
amadurecimento psicológico proporciona ao indivíduo utilizar-se das aquisições
morais, mentais e culturais para estimular-lhe os núcleos fomentadores de vida,
alterando sempre para melhor a própria estrutura física e psíquica pelo irradiar
de energias saudáveis, reconstruindo o organismo e utilizando-o com sabedoria
para fruir da paz e da alegria de viver.
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A
reencarnação
Destituída
de finalidade seria a vida que se diluísse na tumba, como efeito do fenômeno da
morte. Diante de todas as transformações que se operam nos campos da realidade
objetiva, como das alterações que se processam na área da energia, seria
utópico pensar-se que a fatalidade do existir é o aniquilamento. Embora as
disjunções moleculares e as modificações na forma, tudo se apresenta em
contínuo vir-a-ser, num intérmino desintegrar-se — reintegrando-se —, que oferece,
à Vida, um sentido de eternidade, além e antes do tempo, conforme as limitadas
dimensões que lhe conferimos.
Nesse
sentido, especificamente, o complexo humano apresenta-se através de faixas de
movimentação instável, qual ocorre com o corpo; em mecanismos de sutilização, o
perispírito; e de aprimoramento, quando se trata do Espírito, este último,
aliás, inquestionavelmente imortal.
A aquisição
da consciência é o resultado de um processo incessante, através do qual o psiquismo se agiganta desde o sono, na força aglutinadora das
moléculas, no mineral; à sensibilidade,
no vegetal; ao instinto, no
animal; e à inteligência, à razão, no
homem. Nesta jornada automática, funcionam as inapeláveis Leis da Evolução, em a Natureza , defluentes
da Criação.
Chegando ao
patamar humano, esse psiquismo, de início rudimentarmente pensante, atravessa
inúmeras experiências pessoais, que o tornam herdeiro de si mesmo, em um encadeamento
de aprendizagens pelo mergulho no corpo e abandono dele, toda vez que se
rompam os liames que retêm a individualidade.
Este
processo de renascimentos, que os gregos denominavam de palingenésico,
constitui um avançado sistema de crescimento intelecto-moral, fomentador da
felicidade.
Graças a ele, a existência humana se reveste de dignidade e de
relevantes objetivos que não podem ser interrompidos. Toda vez que surge um
impedimento, que se opera um transtorno ou sucede uma aparente cessação, a
oportunidade ressurge e o recomeço se estabelece, facultando ao aprendiz o
crescimento que parecia terminado.
Face a este
mecanismo, os fenômenos psicológicos apresentam-se em encadeamentos naturais,
e elucidam-se inumeráveis patologias psíquicas e físicas, distúrbios de
comportamento, diferenças emocionais, intelectuais e variados acontecimentos,
nas áreas sociológica, econômica, antropológica, ética, etc.
O
processamento da aquisição intelectual faz-se ao largo das experiências de
aprendizagem, mediante as quais o Eu consciente adiciona conteúdos culturais,
ao mesmo tempo que desenvolve as aptidões jacentes, para as diversas categorias
da técnica, da arte, da ética, num incessante aprimoramento de valores.
A
anterioridade do Espírito ao corpo, brinda-lhe maior soma de conhecimentos do
que os apresentados pelos principiantes no desiderato físico.
A
genialidade de que uns indivíduos são portadores, em detrimento dos limites que
se fazem presentes em outros seres do mesmo gene, demonstra que os psiquismos
aí expressos diferem em capacidade e lucidez.
Embora
herdeiro dos caracteres da raça — aparência, morfologia, cabelos, olhos, etc.
—, os valores psicológicos, intelecto-morais não são transmissíveis pelos
genes e cromossomos, antes, são atributos da individualidade eterna, que transfere
de uma para outra existência corporal o somatório das suas conquistas salutares
ou perturbadoras.
Não há como
negar-se a influência genética na evolução do ser, os impositivos do meio, dos
costumes e dos hábitos, entretanto, impende observar que o corpo reproduz o
corpo, não a mente, a consciência, que só o Espírito exterioriza.
A introdução
do conceito reencarnacionista na Psicologia dá-lhe dimensão invulgar,
esclarecimento das dificuldades na argumentação em torno do Inconsciente, dos
arquétipos, individual e coletivo, estudando o homem em toda a sua
complexidade profunda e, mediante a identificação do seu passado,
facultando-lhe o descobrimento e utilização das suas possibilidades, do seu
vir-a-ser.
Nos
alicerces do Inconsciente profundo encontram-se os extratos das memórias
pretéritas, ditando comportamentos
atuais, que somente uma análise regressiva consegue detectar, eliminando os conteúdos
perturbadores, que respondem por várias alienações mentais.
No capítulo
dos impulsos e compulsões psicológicas, o passado espiritual exerce uma
predominância irrefreável, que leva aos grandes rasgos do devotamento e da
abnegação, quanto à delinqüência, à agressividade, à multiplicidade de personificações
parasitárias, mesmo excluindo-se a hipótese das obsessões.
Na imensa
panorâmica dos distúrbios mentais, especialmente nas esquizofrenias,
destacam-se as interferências constritoras dos desencarnados que se estribam
nas leis da cobrança pessoal, certamente
injustificáveis, para desforçar-se dos sofrimentos que lhes foram anteriormente
infligidos, em outras existências, pelas vítimas atuais.
Diante das
ocorrências do déjà-vu, os
remanescentes reencarnacionistas estabelecem parâmetros sutis de lembranças
que retornam à consciência atual como lampejos e clichês de evocações,
ressumando dos conteúdos da inconsciência — ou da memória extracerebral, do
perispírito — oferecendo possibilidades de identificação de pessoas, acontecimentos,
lugares e narrativas já vividos, já conhecidos, antes experimentados...
Desfilam, então, os fenômenos psicológicos das simpatias e das antipatias,
dos amores alucinantes e dos ódios devoradores, que ressurgem dos arquivos
da memória anterior ante o estímulo externo de qualquer natureza, que os
desencadeiam, tais: um encontro ou reencontro; uma associação de idéias — a
atual revelando a passada — uma dissensão ou um diálogo; qualquer elemento que
constitua ponte de ligação entre o hoje e o ontem.
Excetuando-se
os conflitos que têm sua psicogênese na vida atual, a expressiva maioria deles
procede das jornadas infelizes do ser eterno, herdeiro de si mesmo, que
transfere as fobias, insatisfações, consciência de culpa, complexos, dramas
pessoais, de uma para outra reencarnação através de automatismos psicológicos,
responsáveis pelo equilíbrio das Leis que governam a Vida.
Diante de
tais acontecimentos, considerando-se os fenômenos místicos, as ocorrências
paranormais. os êxtases naturais e os provocados, aos quais a Psicologia
organicista dava gêneses patológicas, nasceu, mais ou menos recentemente, a
denominada quarta força em
Psicologia — sucedendo (ou completando) o Behaviorismo, a Psicanálise e a
Psicologia Humanista —, que é a Escola Transpessoal. Entretanto, já no começo
do século, Burcke, desejando enquadrar em uma só denominação estes e outros
eventos psicológicos, cunhou o conceito de consciência cósmico, a fim de os situar em um só capítulo,
tornando-se, de alguma forma, pioneiro, na área da Psicologia Transpessoal, que
abrange, entre outras, as percepções extra-sensoriais, além da área da
consciência.
Nesta
conceituação, a morte é fenômeno biológico a transferir o ser de uma para
outra realidade, sem consumpção da vida.
O ser
humano, diante da visão nova e transpessoal,
deixa de ser a massa, apenas celular, para tornar-se um complexo com
predominância do princípio eterno. A decisiva contribuição dos seus pioneiros,
entre os quais, Maslow, Assagioli — com a sua Psicossíntese —, Sutich, Wilber,
Grof e outros, oferece excelentes recursos para a psicoterapia, liberando a
maioria dos pacientes dos seus conflitos e problemas que desestruturam a
personalidade.
Neste
admirável amálgama da integração dos mais importantes Insights das Doutrinas psicológicas do Ocidente com as Tradições
Esotéricas do Oriente, agiganta-se o Espiritismo, pioneiro de uma Psicologia
Espiritualista dedicada ao conhecimento do homem integral, na sua valiosa
complexidade — Espírito, perispírito e matéria — ampliando os horizontes da
vida orgânica, a se desdobrarem além do túmulo e antes do corpo, com infinitas
possibilidades de progresso, no rumo da perfeição.
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