SÉTIMA PARTE
PLENIFICAÇÃO INTERIOR
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Problemas sexuais
Herança animal predominante em a natureza humana, o instinto de
reprodução da espécie exerce um papel de fundamental importância no
comportamento dos seres. Funcionando por impulsos orgânicos nos irracionais,
expressa-se como manifestação propiciatória à fecundação nos ciclos orgânicos,
periódicos, em ritmos equilibrados de vida.
No homem, face ao uso, que nem sempre obedece à finalidade precípua da
perpetuação das formas, experimenta agressões e desvios que o desnaturam,
tornando-se, o sexo, fator de desditas e problemas da mais variada expressão.
Face à sensação de prazer que lhe é inata, a fim de atrair os parceiros
para a comunhão reprodutora, torna-se fonte de tormentos que delineiam o futuro
da criatura.
Considerando-se a força do impulso sexual, no comportamento psicológico
do homem, as disjunções orgânicas, a configuração anatômica e o temperamento
emocional tornam-se de valor preponderante na vida, no inter-relacionamento
pessoal, na atitude existencial de cada qual.
A sua carga compressiva, no entanto, transfere-se de uma para outra
existência corporal, facultando um uso disciplinado, corretor, em injunções
específicas, que por falta de esclarecimento leva o indivíduo a uma ampla gama
de psicopatologias destrutivas na área da personalidade.
Com muita razão, Alice Bailey afirmava, diante dos fenômenos de
alienação mental, que eles podem ser “... de natureza psicológica,
hereditários por contatos coletivos e cármicos”. Introduzia, então, o conceito
cármico, na condição de fator desencadeante das enfermidades a expressar-se nas
manifestações da libido, de relevante importância nos estudos freudianos.
O conceito, em torno do qual o homem
é um animal sexual, peca,
porém, pelo exagero.
Naturalmente, as heranças atávicas impõem-lhe a força do instinto sobre
a razão, levando-o a estados ansiosos como depressivos. Todavia, a necessidade
do amor é-lhe superior. Por falta de uma equilibrada compreensão da
afetividade, deriva para as falazes sensações do desejo, em detrimento das
compensações da emoção.
Mais difícil se apresenta um saudável relacionamento afetivo do que o
intercurso apressado da explosão sexual, no qual o instinto se expressa,
deixando, não poucas vezes, frustração emocional.
Passados os rápidos momentos da comunhão física, e já se manifestam a
insatisfação, o arrependimento, os conflitos perturbadores...
A falta de esclarecimento, no passado, em torno das funções do sexo, os
mistérios e a ignorância com que o vestiram, desnaturaram-no.
A denominada revolução sexual dos
últimos tempos, igualmente, ao demitizá-lo, abriu espaços de promiscuidade para
os excessivos mitos do prazer, com a conseqüente desvalorização da pessoa, que
se tornou objeto, instrumento de troca, indivíduo descartável, fora de qualquer
consideração, respeito ou dignidade.
A sociedade contemporânea sofre, agora. os efeitos da liberação sem
disciplina, através da qual a criatura vive a serviço do sexo, e não este para
o ser inteligente, que o deve conduzir com finalidades definidas e
tranqüilizadoras.
As aberrações se apresentam, neste momento, com cidadania funcional,
levando os seus pacientes a patologias graves que alucinam, matam e os levam a
matar-se.
A consciência deve dirigir a conduta sexual de cada indivíduo, que lhe
assumirá as conseqüências naturais.
Da mesma forma que uma educação castradora é responsável por inúmeros
conflitos, a liberativa em excesso abre comportas para abusos injustificáveis e
de lamentáveis efeitos no psiquismo profundo.
A vida se mantém sob padrões de ordem, onde quer que se manifeste. Não
há, aí, exceção para o comportamento do homem. Por esta razão, o uso indevido
de qualquer função produz distúrbios, desajustes, carências, que somente a educação
do hábito consegue harmonizar.
Afinal, o homem não é apenas um feixe de sensações, mas, também, de
emoções, que pode e deve canalizar para objetivos que o promovam, nos quais
centralize os seus interesses, motivando-o a esforços que serão compensados
pelos resultados benéficos.
Exclusão feita aos portadores de enfermidades mentais a se refletirem na
conduta sexual, o pensamento é portador de insuspeitável influência, no que
tange a uma salutar ou desequilibrada ação genésica.
o mesmo fenômeno ocorre nas
mais diferentes manifestações da vida humana. Mediante o seu cultivo, eles se
exteriorizam no comportamento de forma equivalente.
A vida, portanto, saudável, na área do sexo, decorre da educação mental,
da canalização correta das energias, da ação física pelo trabalho, pelos
desportos, pelas conversações edificantes que proporcionam resistência contra
os derivativos, auxiliando o indivíduo na eleição de atitudes que proporcionam
bem-estar onde quer que se encontre.
As ambições malconduzidas, toda frustração decorrente do querer e não
poder realizar, dão nascimento ao conflito. O conflito, por sua vez, quando não
eqüacionado pela tranqüila aceitação do fato, sobrepondo a identidade real ao
ego dominador e insaciável, termina por gerar neuroses. Estas, sustentadas
pela insatisfação, transmudam-se em paranóia de catastróficos resultados na
personalidade.
Considerado na sua função real e normal, o sexo é santuário da vida, e
não paul de intoxicação e morte.
Estimulado pelo amor, que lhe tem ascendência emocional, propicia as
mais altas expressões da beleza, da harmonia, da realização pessoal; acalma,
encoraja para a vida, tornando-se um dínamo gerador de alegrias.
Os problemas sexuais se enraízam no espírito, que se aturde com o
desregramento que impõe ao corpo, exaurindo as glândulas genésicas e
exteriorizando-se em funções incorretas, que se fazem psicopatologias graves,
a empurrar a sua vítima para os abismos da sombra, da perversidade e do crime.
A liberação das distonias sexuais, mais perturbam o ser, que se
transfere de uma para outra sensação com sede crescente, mergulhando na
promiscuidade, por desrespeito e desprezo a si mesmo e, por extensão, aos
outros. A sua é uma óptica desfocada, pela qual passa a ver o mundo e as demais
pessoas na condição de portadoras dos seus mesmos problemas, só que mascaradas
ou susceptíveis de viverem aquela conduta, quando não deseja impor a sua
postura especial como regra geral para a sociedade.
Sob conflito psicológico, o portador de problema sexual, ou de outra
natureza, não se aceita, fugindo para outros comportamentos dissimuladores; ou
quando se conscientiza e resolve-se por vivê-lo, assume feição chocante, agressiva, como uma forma de enfrentar
os demais, de maneira antinatural, demonstrando que não o digeriu nem o
assimilou.
Toda exibição oculta um conflito de timidez ou inconformação, de
carência ou incapacidade.
Uma terapia psicológica bem cuidada atenua o problema sexual, cabendo ao
paciente fazer uma tranqüila auto-análise, que lhe faculte viver em harmonia
com a sua realidade interna, nem sempre compatível com a sua manifestação externa.
Não basta satisfazer o sexo — toda fome e sede, de momento, saciadas,
retornam, em ocasião própria — mas, harmonizar-se, emocionalmente, vivendo em
paz de consciência, embora com alguma fome perfeitamente suportável, ao invés
do constante conflito da insatisfação decorrente da imaginação fértil, que
programa prazeres contínuos e elege companhias impossíveis de conseguidas em
qualquer faixa sexual que se estagie.
Ninguém se sente pleno, no mundo, acreditando-se haver logrado tudo
quanto desejava.
A aspiração natural e calma para atingir um próximo patamar, faz-se
estímulo para o progresso do indivíduo e da sociedade.
Os problemas sexuais, por isto mesmo, devem ser enfrentados sem
hipocrisia, nem cinismo, fora de padrões estereotipados por falsa moralidade,
tampouco levados à conta de pequeno significado. São dificuldades e, como tais,
merecem consideração, tempo e ação especializada.
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Relacionamentos perturbadores
Os indivíduos de temperamento neurótico, tornam-se incapazes de manter
um relacionamento estável. Pela própria constituição psicológica, são
perturbadores de afetividade obsessiva e, porque inseguros, são desconfiados,
ciumentos, por conseqüência depressivos ou capazes de inesperadas irrupções de
agressividade.
Os conflitos de que são portadores os levam a uma atitude
isolacionista, resultado da insatisfação e constante irritabilidade contra
tudo e todos. Crêem não merecer o amor de outrem e, se tal acontece, assumem o
estranho comportamento de acreditar que os outros não lhes merecem a afeição,
podendo traí-los ou abandoná-los na primeira oportunidade. Quando se vinculam,
fazem-se absorventes, castradores, exigindo que os seus afetos vivam em
caráter de exclusividade para eles. São, desse modo, relacionamentos
perturbadores, egocêntricos.
O amor é uma conquista do espírito maduro, psicologicamente
equilibrado; usina de forças para manter os equipamentos emocionais em
funcionamento harmônico. E uma forma de negação
de si mesmo em autodoação plenificadora. Não se escora em suspeitas, nem
exigências infantis; elimina o ciúme e a ambição de posse, proporcionando
inefável bem-estar ao ser amado que, descomprometido com o dever de
retribuição, também ama. Quando, por acaso, não correspondido, não se magoa nem
se irrita, compreendendo que o seu e o objetivo de doar-se, e não de exigir.
Permite a liberdade ao outro, que a si mesmo se faculta, sem carga de ansiedade
ou de compulsão.
Quando estas características estão ausentes, o amor é uma palavra que
veste a memória condicionada da sociedade, em torno dos desejos lúbricos, e não
do real sentimento que ele representa.
Esse relacionamento perturbador faz da outra pessoa um objeto possuído,
por sua vez, igualmente possuidor, gerando a desumanização de ambos.
Ao dizer-se meu amigo, minha esposa, meu filho, meu companheiro,
meu dinheiro, a posse está
presente e a submissão do possuído é manifesta sem resistência, evitando
conflitos no possuidor, não obstante, em conflito aquele que se deixa possuir,
até o momento da indiferença, por saturação, desinteresse, ou da reação, do
rompimento, transformando-se o afeto-posse em animosidade, em ódio.
Necessária uma nova conduta e para isto a psicologia profunda se torna o estudo de uma nova linguagem libertadora.
A palavra é um símbolo que veste a idéia; por sua vez, formulação de
pensamento, que se torna uma memória acumulada e retorna quando se deseja
vesti-lo.
A memória da sociedade adicionou
conceitos sobre o amor e o relacionamento, estabelecendo sinais que os
caracterizam, sem que auscultasse as suas estruturas psicológicas despidas de
símbolos.
O homem deve comprometer-se ao autodescobrimento, para ser feliz,
identificando seus defeitos e suas boas qualidades, sem autopunição, sem
autojulgamento, sem autocondenação.
Pescá-los, no mundo íntimo, e eliminar aqueles que lhe constituem
motivos de conflitos, deve ser-lhe a meta... Não se sentir feliz ou
desventurado, porém empenhar-se por atenuar as manifestações primitivas de
agressividade e posse, desenvolvendo os valores que o equipem de harmonia,
vivendo bem cada momento, sem projetos propiciadores de conflitos em relação ao
futuro ou programas de reparação do passado.
Simplesmente deve renovar-se sempre para melhor, agindo com correção,
sem consciência de culpa, sem autocompaixão, sem ansiedade. Viver o tempo com
dimensão atemporal, em entrega, em confiança, em paz.
Pode-se dizer que, no amor, quando alguém se identifica com a pessoa a
quem supõe amar, esta, apenas, realizando um ato de prolongamento de si mesmo, portanto, amando-se, e não à outra
pessoa. Esta identificação se baseia na memória do prazer e da dor, das
alegrias e dos insucessos, portanto, amando o passado e as suas concessões, e
não a pessoa em si, neste momento, como é. É habitual dizer-se: “— Amo, porque
ela (ou ele) tem compartido da minha vida, das minhas lutas; ajudou-me, sofreu
ao meu lado, etc.”
O sentimento que predomina aí é o de gratidão, e gratidão,
infelizmente, não é amor, é reconhecimento que deve retribuir, compensar,
quando em verdade, o amor é só doação.
Imprescindível, assim, uma nova
linguagem que rompa com o atavismo, com a memória da sociedade, acumulada de símbolos, falsos uns, e
inadequados outros.
Os relacionamentos humanos tornam-se, portanto, perturbadores,
desastrosos, por falta de maturidade psicológica do homem, em razão, também,
dos seus conflitos, das suas obsessões e ansiedades.
Graças ao autoconhecimento ele adquire confiança, e os seus conflitos
cedem lugar ao amor, que se transforma em núcleo gerador de alegria com alta
carga de energia vitalizadora.
O amor, porém, entre duas ou mais pessoas somente será pleno, se elas
estiverem no mesmo nível.
A solução, para os relacionamentos perturbadores, não éa separação, como
supõem muitos.
Rompendo-se com alguém, não pode o indivíduo crer-se livre para um
outro tentame, que lhe resultaria feliz, porqüanto o problema não é a da
relação em si, mas do seu estado íntimo, psicológico. Para tanto, como forma de
equacionamento, só a adoção do amor com toda a sua estrutura renovadora,
saudável, de plenificação, consegue o êxito almejado, porqüanto, para onde ou
para quem o indivíduo se transfira, conduzirá toda a sua memória social, o seu comportamento e
o que é.
Desse modo, transferir-se não resolve problemas. Antes, deve
solucionar-se para trasladar-se, se for o caso, depois.
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Manutenção de propósitos
O homem é um ser muito complexo. Somatório das suas experiências
passadas tem, no inconsciente, um
completo arquivo da raça, da cultura, das tradições que lhe influem no
comportamento.
Por outro lado, a educação, os hábitos, os fenômenos psicológicos e
fisiológicos estão a alterá-lo a cada momento.
Do acúmulo destes valores resultam-lhe as aspirações, as tendências e
anseios, seus conflitos, ansiedades e realizações.
O inconsciente, como efeito, está sempre a ditar-lhe o que fazer e o que a realizar, inclinando-o numa ou
noutra direção. Todavia, o mecanismo essencial da Vida impulsiona-o para o
progresso, para a evolução, mediante os programas de autoburilamento, de
orientação, de trabalho...
O resultado natural deste processo é uma mente confusa, buscando
claridade; são problemas psicológicos, aguardando solução.
Torna-se-lhe imperiosa a adoção de propósitos para saber o motivo da
confusão mental e entender os problemas, antes que tentar solucioná-los
superficialmente, deixando em aberto novas dificuldades deles decorrentes.
A solução de agora pode satisfazê-lo por momentos, porém se não são
entendidos, eles retornam por outro processo, permanecendo na condição de
conflitos a resolver.
Para que se mantenha o propósito de entendimento de si mesmo e da Vida,
faz-se necessário um percebimento integral
de cada fato, sem julgamento, sem compaixão, sem acusação.
Examiná-lo com imparcialidade, na sua condição de fato que é, com uma
mente inocente, sem passado,
sem futuro, apenas presente, mediante uma honesta compreensão, é a forma
segura de o entender, portanto, de o perceber e digeri-lo convenientemente, sem
dar margem a novos comprometimentos. Sem tal experiência se está tentando
burlar a mente, qual se deseje saber por palavras o que se passa em algum
lugar, sem interesse de ir-se lá, de conhecer-se pessoalmente.
Esta é uma conduta de quem somente busca informação sem interesse pelo
conhecimento real, desde que se nega ao esforço do deslocamento até o lugar em
pauta.
O entendimento de si mesmo, a fim de encontrar as raízes dos problemas,
para extirpá-los, exige uma energia permanente, um propósito perseverante,
mantidos com inteireza moral e psicológica. Em caso contrário, desejam-se
apenas, informações verbais, sem mais profundas conseqüências.
Todos os problemas existentes no homem, dele mesmo procedem, das suas
complexidades, da dominação do seu ego.
Normalmente, em razão do próprio passado, as tentativas de manter os
propósitos de autoconhecimento, sem acumulação de dados especulativos, mas de
real identificação de si mesmo, redundam em insucesso pela falta de
perseverança, pelo desânimo diante das dificuldades do começo da empresa e
pelo desinteresse de libertar-se dos conflitos.
O homem se queixa que o autoconhecimento exige despesa de energia face
ao desgaste que o esforço provoca. Talvez não seja necessária uma luta como a
que se trava em outras atividades. A manutenção dos conflitos produz muito mais
consumpção de forças. Basta uma atitude de desvalorização dos problemas, como
quem deixa cair um fardo simplesmente, ao invés de empenhar-se por atirá-lo
fora.
A manutenção dos propósitos de renovação e de auto-aprimoramento é
resultado de uma aceitação normal e de todo momento, da necessidade de
autodescobrir-se, morrendo para
as constrições e ansiedades, os medos e rotinas do cotidiano. Desta ação
consciente, de que se impregna, o homem se plenifica interiormente, sem
neurose ou outros quaisquer fenômenos psicóticos, perturbadores da
personalidade e da vida.
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Leis cármicas e felicidade
Nas experiências psicológicas de amadurecimento da personalidade, na
busca da plenitude, a incerteza é indispensável, pois que ela fomenta o
crescimento, o progresso, significando insatisfação
pelo já conseguido.
A certeza significaria,
neste sentido, a cessação de motivos e experiências, que são sempre
renovadores, facultando a ampliação dos horizontes do ser e da vida.
Graças à incerteza, que não representa falta de fé, os erros são mais
facilmente reparáveis e os êxitos mais significativos. Ela ajuda na
libertação, pois que a presença do apego, no sentimento, gera a dor, a
angústia. Este último, que funciona como posse algumas vezes, como sensação de
segurança e proteção noutras ocasiões, desperta o medo da perda, da solidão, do
abandono.
A verdadeira solidão — a mente estar livre, descomprometida, observando
sem discutir, sem julgar — é um estado de virtude — nem memória conflitante do
passado, nem desespero pelo futuro não delineado — geradora de energia, de
coragem.
Normalmente, o medo da solidão é o fantasma do estar sozinho, sem
ninguém a quem submeter ou a quem submeter-se.
A insegurança porque se está a sós assusta, como se a presença de outra
pessoa pudesse evitar os fenômenos automáticos de transformação interna do ser
— fisiológica e psicologicamente — impedindo os acontecimentos desagradáveis
ou a morte.
É necessário que o homem aprenda a viver com a sua solidão — ele que é
um cosmo miniaturizado, girando sob a influência de outros sistemas à sua volta
— com o seu silêncio criativo, sem tagarelice, liberando-se da consciência de culpa, que lhe vem do
passado.
Destinado à liberdade plena, encontra-se encurralado pelas lembranças
arquivadas nos painéis do inconsciente — sua memória perispiritual — que lhe
põem algemas em forma de ansiedade, de fobias, de conflitos.
Mesmo quando os fatores da vida se lhe apresentam tranqüilizadores,
evade-se do presente sob suspeitas injustificáveis de que não merece a felicidade, refugiando-se
no possível surgimento de inesperados sofrimentos.
A felicidade relativa é possível e se encontra ao alcance de todos os
indivíduos, desde que haja neles a aceitação dos acontecimentos conforme se
apresentam. Nem exigências de sonhos fantásticos, que não se corporificam em
realidade, tampouco o hábito pessimista de mesclar a luz da alegria com as
sombras densas dos desajustes emocionais.
As heranças do passado espiritual ressumam em manifestações cármicas,
que devem ser enfrentadas naturalmente por fazerem parte da vida, elementos
essenciais que são constitutivos da existência.
Como decorrência de uma vida anterior dissoluta, surgem os conflitos,
as castrações, os tormentos atuais, da mesma forma, como efeito do uso adequado
das funções se apresentam as bênçãos de plenificação.
As leis cármicas, que são o resultado das ações meritórias ou
comprometedoras de cada indivíduo, geram, na economia evolutiva de cada um,
efeitos correspondentes, estabelecendo a ponderabilidade da Divina Justiça,
presente em todos os fenômenos da Natureza e da Criação.
O fatalismo cármico da evolução é a felicidade humana, quando o ser,
depurado e livre, sentir-se perfeitamente integrado na Consciência Cósmica.
A sua marcha, embora as aparências dissonantes de alegria e tristeza,
de saúde e doença, está incursa no processo das conquistas que lhe cumpre
realizar, passo a passo, com dignidade e com iguais condições delegadas aos
seus semelhantes, sem protecionismos vis ou punições cerceadoras Indevidas,
que formaram os arquétipos de privilégio e recusa latentes em muitos.
A resolução para ser feliz rompe as amarras de um carma negativo, face
ao ensejo de conquistar mérito através das ações benéficas e construtivas,
objetivando a si mesmo, o próximo e a sociedade.
Nenhum impedimento na vida à felicidade.
Uma resignação dinâmica ante o infortúnio — a naturalidade para
enfrentar o insucesso negando-se a que interfiram no estado de bem-estar
íntimo, que independe de fatores externos — realiza a primeira fase do estágio
feliz.
O amadurecimento psicológico, a visão correta e otimista da existência
são essenciais para adquirir-se a felicidade possível.
Na sofreguidão da posse, o homem supÕe que o apego às coisas, a
disponibilidade de recursos, a ausência de problemas são os fatores básicos da
felicidade e, para tanto, se empenha com desespero.
Ao desfrutar deles, porém, dá-se conta que não se encontra ditoso,
embora confortado, porque é no seu mundo íntimo, de satisfação e lucidez em
torno das finalidades da vida, que estão os valores da plenitude.
As leis cármicas são a resposta para que alguns indivíduos fruam hoje o
que a outros falta, ao mesmo tempo são a esperança para aqueles que lutam e
anelam, acenando-lhes a Possibilidade próxima de aquisição dos elementos que
felicitam.
Idear a felicidade sem apego e insistir para consegui-la; trabalhar as
aspirações íntimas, harmonizando-as com os limites do equilíbrio; digerir as ocorrências desagradáveis
como parte do processo; manter-se vigilante, sem tensões nem receios e se dará
o amadurecimento psicológico, liberativo dos carmas de insucesso, abrindo
espaço para o auto-encontro, a paz plenificadora.
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