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Redirecionamento

quarta-feira, 11 de março de 2015

TEMA DA DOUTRINÁRIA DO DIA 12/03/15 (QUINTA FEIRA) "PAPEL DA CIÊNCIA NA GÊNESE", CAPÍTULO IV DO LIVRO "A GÊNESE" - EXPOSITOR: DANILO CRUZ


LIVRO: A GÊNESE – ALLAN KARDEC

CAPÍTULO IV - O Papel da Ciência na Gênese

1. A história da origem de quase todos os povos antigos se confunde com a de sua religião _ é por isso que seus primeiros livros foram livros religiosos; e, como todas as religiões se ligam ao princípio das coisas, que é também o princípio da humanidade, ao tratar da formação e da disposição do universo, elas deram explicações que mantêm relação com o estado dos conhecimentos ao tempo em que seus fundadores registraram seus conceitos. Daí resultou que os primeiros livros sagrados foram ao mesmo tempo os primeiros livros de ciência, assim como durante muito tempo foram também o único código de leis civis.
2. Nos tempos primitivos, os meios de observação eram necessariamente muito imperfeitos, e as primeiras teorias acerca do sistema do mundo deviam ser eivadas de erros grosseiros; ocorre, porém, que se tais meios houvessem sido tão completos como o são hoje, os homens não teriam sabido usar deles; além disso, tais livros não poderiam ser senão o fruto do desenvolvimento da inteligência e do conhecimento sucessivo das leis da Natureza. À medida que o homem se adiantou no conhecimento de tais leis, penetrou nos mistérios da criação e retificou as idéias que havia formado sobre a origem das coisas.
3. O homem foi impotente para resolver o problema da criação, até que a ciência lhe deu a chave. Foi preciso que a Astrologia lhe abrisse as portas do espaço infinito e lhe permitisse que aí mergulhasse suas vistas, que, pelo poder de cálculo, determinasse com rigorosa exatidão o movimento, a posição, o volume, a natureza e o papel dos corpos celestes; que a Física lhe revelasse as leis da gravitação, do calor, da luz e da eletricidade; que a Química lhe ensinasse as transformações da matéria e a Mineralogia lhe revelasse os materiais de que se compõe a crosta terrestre; que a geologia lhe ensinasse a ler nas camadas terrestres, a formação gradual do próprio globo. A Botânica, a Zoologia, a Paleontologia, a Antropologia, deviam iniciá-lo na filiação e na sucessão dos seres organizados; com a Arqueologia, ele foi capaz de seguir os traços da humanidade através das idades; todas as ciências, numa palavra, se completam umas às outras, e assim lhe trazem seu contingente indispensável ao conhecimento da história do mundo; caso elas não existissem, o homem não teria por guia outra coisa senão suas primeiras hipóteses.
Igualmente, antes que o homem se apoderasse destes elementos de apreciação, todos os comentadores da Gênese, cuja razão se entrechocava com impossibilidades materiais, giravam num mesmo círculo do qual não poderiam sair; somente o conseguiram desde que a ciência abriu a rota, fazendo brechas no velho edifício das crenças, e então tudo mudou de aspecto; uma vez encontrado o fio condutor, as dificuldades foram prontamente aplainadas; em vez de uma Gênese imaginária, tivemos uma Gênese positiva, e de alguma forma, experimental; o campo do universo estendeu-se até o infinito; viu-se a terra e os astros se formarem gradualmente, segundo leis eternas e imutáveis, as quais testemunham a grandeza e a sabedoria de Deus melhor que uma criação miraculosa, saída de um golpe do nada, como uma modificação operada à vista, por uma idéia súbita da Divindade após uma eternidade de inação.
Desde que é impossível conceber a Gênese sem os dados fornecidos pela ciência, é lícito dizer-se, de modo totalmente verdadeiro, que a ciência é convocada para constituir a verdadeira Gênese, conforme as leis da Natureza.
4. No ponto que a ciência alcançou, no século XIX, terá ela resolvido todas as dificuldades do problema da Gênese?
Não, com certeza, porém é incontestável que destruiu, sem possibilidade de retorno, todos os erros capitais, e que ela assentou os alicerces essenciais, sobre dados irrecusáveis; os pontos ainda incertos não são, para falar corretamente, senão questões de pormenores, cuja solução, qualquer que seja no futuro não pode prejudicar o conjunto. Além disso, apesar de todos os recursos dos quais ela tem podido dispor, tem-lhe faltado até hoje um elemento importante, sem o qual a obra não teria jamais sido completa.
5. De todas as Gêneses antigas, aquela que mais se aproxima dos dados científicos modernos, apesar dos erros que encerra e que hoje são demonstrados até se tornarem evidentes, é incontestavelmente a de Moisés. Alguns de tais erros são mesmo mais aparentes do que reais, e provêm da falsa interpretação de certas palavras, cuja significação primitiva foi perdida ao passar de uma língua para outra pela tradução, ou cuja acepção mudou com os costumes dos povos, ou da forma alegórica característica do estilo oriental, e do qual se tomou o significado literal, em vez de procurar-se seu espírito.
6. A Bíblia contém evidentemente narrativas que a razão, desenvolvida pela ciência, não poderia aceitar hoje em dia; igualmente, contém fatos que parecem estranhos e repugnantes, porque se ligam a costumes que não são adotados. Porém, ao lado disso, haveria parcialidade se não reconhecêssemos que ela encerra grandes e belas coisas. A alegoria ali tem lugar considerável e sob tal véu ela esconde verdades sublimes que aparecerão, se a buscarmos no fundo do pensamento, pois, então, o absurdo desaparecerá.
Então, por que é que esse véu já não foi erguido mais cedo? Por um lado, é a falta de luzes que unicamente a ciência de uma sã filosofia poderia fornecer; por outro, o princípio da imutabilidade absoluta da fé, conseqüência de um respeito por demais cego pela letra, segundo o qual a razão deveria inclinar-se e por conseguinte, o medo de comprometer a estrutura de crenças edificadas sobre o significado literal. Desde que essas crenças partiram de um ponto primitivo, subsistia o receio de que, se o primeiro anel da corrente viesse a romper-se, todas as malhas do tecido terminariam por se separar; é por isso que se conservaram os olhos fechados, apesar de tudo; porém, fechar os olhos ao perigo não é o meio de evitá-lo. Quando um alicerce cede, não será mais prudente substituir imediatamente as pedras ruins por outras boas, em lugar de esperar, por respeito à velhice do edifício, que o mal se torne sem remédio, e que seja necessário reconstruir tudo, de baixo até em cima?
7. A ciência, levando suas investigações até as entranhas da terra, e à profundeza dos céus, tem pois demonstrado de modo irrecusável os erros da Gênese mosaica tomada à letra, e a impossibilidade material de que as coisas se hajam passado tal como estão relatadas textualmente; por isso mesmo, ela desferiu um golpe profundo nas crenças seculares. A fé ortodoxa comoveu-se, porque julgou que lhe haviam arrancado sua pedra fundamental; porém, quem é que devia ter razão: a ciência caminhando de modo prudente e progressivo sobre o terreno sólido das cifras e da observação, sem nada afirmar sem ter a prova à mão, ou um relato escrito numa época na qual faltavam os meios de observação, de modo absoluto? No fim de contas quem há de levar a melhor? Aquele que diz que dois mais dois são cinco e recusa conferir sua adição, ou aquele que diz que dois mais dois são quatro, e o comprova?
8. Objetareis, então: se a Bíblia é uma revelação divina, Deus estará então errado? Se não é uma revelação divina, não tem mais autoridade, e a religião se esboroa, por falta de base.
De duas coisas persistirá uma: ou a ciência tem errado, ou ela tem razão; se ela tem razão, não poderá tornar verdadeira uma opinião que lhe seja contrária; não há revelação que possa prevalecer sobre a autoridade dos fatos verificados.
Incontestavelmente, Deus, que é todo verdade, não pode induzir os homens ao erro, nem consciente, nem inconscientemente, pois então não seria Deus. E, pois, se os fatos contradizem as palavras que a ele são atribuídas, necessário se torna concluir, logicamente, que ele não as pronunciou ou que elas foram tomadas em sentido diverso.
Se a religião sofre de tais contradições em algumas partes, o erro não é da ciência, que não pode transformar em fato aquilo que não o é, mas dos homens por terem fundado prematuramente dogmas absolutos, dos quais fizeram uma questão de vida ou morte sobre hipóteses suscetíveis de serem desmentidas pela experiência.
Há coisas a cujo sacrifício é preciso que nos resignemos de boa ou de má vontade, quando não é possível proceder de outro modo. Quando o mundo marcha, a vontade de alguns se revela impotente para o deter; o mais sábio é segui-lo, conformando-se com o novo estado de coisas ao invés de se agarrar ao passado que se desintegra, com o risco de cair com ele.
9. Por respeito a textos considerados como sagrados, seria necessário impor silêncio à ciência? Isto é uma atitude tão impossível quanto a de impedir a terra de girar. As religiões, quaisquer que tenham sido, jamais ganharam nada por sustentar erros manifestos. A missão da ciência é a de descobrir as leis da Natureza; ora, como essas leis são obras de Deus, não podem ser contrárias às religiões fundadas sobre a verdade. Lançar anátema ao progresso como inimigo da religião, é lançar anátema à própria obra de Deus; ademais, é isso completamente inútil, pois todos os anátemas do mundo não impedirão que a ciência caminhe, e que a verdade venha à luz do dia. Se a religião se recusar a caminhar com a ciência, a ciência prosseguirá sozinha.
10. Somente as religiões estacionárias podem temer as descobertas da ciência; essas descobertas não são funestas senão aos que se distanciam das idéias progressivas, imobilizando-se no absolutismo de suas crenças; eles fazem em geral uma idéia tão mesquinha da Divindade, que não compreendem que o fato de se assimilarem às leis da Natureza reveladas pela ciência, é glorificar Deus em suas obras; porém, em sua cegueira, preferem com isso prestar uma homenagem ao Espírito do mal. Uma religião que não estivesse em contradição com as leis da Natureza nada teria que temer do progresso, e seria invulnerável.
11. A Gênese compreende duas partes: a história da formação do mundo material, e a história da humanidade considerada em seu duplo princípio, corporal e espiritual. A ciência tem se limitado à pesquisa das leis que regem a matéria; no próprio homem, ela nada mais tem estudado senão o envoltório carnal. Sob esta relação, chegou a perceber, com incontestável precisão, as principais partes do mecanismo do Universo e do organismo humano. Acerca desse ponto capital, ela pode, pois, completar a Gênese de Moisés e retificar suas partes defeituosas.
Porém, a história do homem, considerado como ser espiritual, se prende a uma ordem especial de idéias, que não constitui o domínio da ciência propriamente dita e por este motivo ela não tem feito dele objeto de suas investigações.
A Filosofia, que inclui este gênero de estudos em suas atribuições não tem formulado, sobre este ponto, mais do que sistemas contraditórios, desde a espiritualidade pura até à negação do princípio espiritual e até mesmo a Deus, sem outras bases além das idéias pessoais de seus autores; e pois, ela tem deixado a questão indecisa, à falta de um controle adequado.
12. Entretanto, esta questão é a mais importante para o homem, pois constitui o problema de seu passado e de seu futuro; a do mundo material não o afeta senão indiretamente. O que lhe importa acima de tudo é saber de onde vem, para onde vai; se já viveu e se viverá outra vez, e qual a sorte que lhe é reservada.
Acerca de todas essas questões, a ciência é muda. A Filosofia nada faz senão emitir opiniões em sentidos diametralmente opostos; porém, pelo menos ela permite discutir o assunto, o que faz com que muitas pessoas se coloquem a seu lado, afastando-se assim da religião, que não discute absolutamente.
13. Todas as religiões estão de acordo sobre o princípio da existência da alma sem todavia o demonstrar; porém elas não concordam nem a respeito de sua origem, nem sobre seu passado, nem sobre seu futuro, nem sobretudo, _ o que é essencial _ sobre as condições das quais depende seu destino futuro. Em sua maior parte, elas fazem do futuro, um quadro imposto à crença de seus adeptos, o que só pode ser aceito pela fé cega, mas não pode suportar um exame sério. O destino que elas atribuem à alma está ligado, em seus dogmas, às idéias que eram formuladas a respeito do mundo material e do mecanismo do Universo, nos tempos primitivos, o que é inconciliável com o estado dos conhecimentos atuais. Uma vez que só podem perder com o exame e a discussão do assunto, acham mais simples proibir um e outro.
14. A dúvida e a incredulidade nasceram dessas divergências relativas ao porvir do homem. Todavia, a incredulidade resulta numa vida penosa; o homem considera com ansiedade o desconhecido, onde fatalmente, cedo ou tarde deverá penetrar; a idéia do nada o faz gelar; sua consciência lhe diz que além do presente há alguma coisa para ele; porém, o que é? Sua razão desenvolvida não lhe permite mais aceitar as histórias que acalentaram sua infância e assim tomar a alegoria pela realidade. Qual é o sentido dessa alegoria? A ciência dilacerou um canto do véu, porém não lhe revelou aquilo que mais lhe importa saber. Ele interroga em vão, e nada lhe responde de maneira peremptória, adequada a acalmar suas apreensões; por toda parte ele encontra a afirmação em choque com a negação, sem provas mais positivas de um lado ou de outro; daí a incerteza, e a incerteza relativa às coisas da vida futura faz com que o homem se atire com uma espécie de frenesi sobre as coisas da vida material.
Tal é o efeito inevitável das épocas de transição: o edifício do passado se esboroa e o do futuro ainda não está levantado. O homem é como o adolescente, que não tem mais a crença ingênua de seus primeiros anos e não tem ainda os conhecimentos da idade madura; nada tem além de vagas aspirações que não sabe definir.
15. Se a questão do homem espiritual permaneceu até nossos dias no estado de teoria, é porque tem havido a falta de meios de observação direta, por outro lado existentes para constatar o estado do mundo material; e o campo tem estado aberto às concepções do espírito humano. Enquanto o homem não conheceu as leis que regem a matéria e enquanto não pode aplicar o método experimental, andou a errar de sistema para sistema no que se refere ao mecanismo do Universo e à formação da Terra. Na ordem moral, tem-se dado o mesmo que na ordem física; a fim de fixar as idéias, tem faltado o elemento essencial: o conhecimento das leis do princípio espiritual. Este conhecimento estava reservado à nossa época, assim como o conhecimento das leis da matéria foi obra dos dois séculos anteriores.
16. Até o presente, o estudo do princípio espiritual, compreendido na Metafísica havia sido puramente especulativo e teórico; no Espiritimo, é todo experimental. Com a ajuda da faculdade mediúnica, mais desenvolvida em nossos dias, e sobretudo generalizada e melhor estudada, encontrou-se o homem de posse de um novo instrumento de observação. Para o mundo espiritual, a mediunidade tem sido aquilo que o telescópio foi para o mundo sideral, e o microscópio para o mundo do infinitamente pequeno; permitiu explorar, estudar, por assim dizer `de visu', suas relações com o mundo corporal; isolar, no homem vivente, o ser inteligente do ser material, e vê-los atuar separadamente. Uma vez estabelecida a relação com os habitantes de tal mundo, foi possível seguir sua alma em sua marcha ascen sional em suas migrações, em suas transformações; enfim, tornou-se possível estudar o elemento espiritual. Eis o que faltava aos anteriores comentadores da Gênese para compreendê-la e retificar seus erros.
17. Estando em contato incessante, o mundo espiritual e o mundo material são solidários um com o outro; todos os dois têm sua parte de ação na Gênese. Sem o conhecimento das leis que regem o primeiro seria também impossível constituir uma Gênese completa, tanto quanto a um escultor é impossível dar vida a uma estátua. Unicamente hoje em dia, e apesar de que nem a ciência material nem a ciência espiritual hajam proferido suas derradeiras palavras, o homem possui os dois elementos adequados a lançar luz sobre este imenso problema. Eram de todo indispensáveis estas duas chaves, para se chegar a uma conclusão, mesmo aproximativa.(*)
(*) A posição criteriosa de Kardec fica bem clara neste capítulo. Ele apresenta as razões históricas da concepção ingênua da Gênese bíblica e sustenta a importância da concepção científica da gênese planetária no século passado, lembrando que, entretanto, as Ciências ainda não haviam chegado a conclusões definitivas. Há quem critique essa posição, achando que Kardec devia ir além das Ciências do seu tempo, apoiando-se em dados de comunicações mediúnicas. Kardec obedeceu ao princípio espírita de que só devemos aceitar o que estiver provado cientificamente. No século atual o avanço científico foi espantoso e assim mesmo não ofereceu os dados necessários a uma formulação definitiva de uma concepção científica da gênese. O critério rigoroso de Kardec o livrou de aceitar revelações mediúnicas que invalidariam a sua obra. Espíritas eminentes ainda não compreenderam que o Espiritismo não se apóia em revelações mediúnicas, mas no estudo das condições dos espíritos e na comprovação pela pesquisa da validade ou não das informações que nos dão (J. Herculano Pires).

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