XXII – O LIVRE ARBÍTRIO
Denis inicia este capítulo
colocando a importância da ‘Liberdade’, bem como sua relevância para
humanidade. Sem ela, há um freio na busca pela evolução e pelo progresso, pois
as limitações tornariam o ser um escravo de suas necessidades.
“A liberdade e a responsabilidade
são correlativas ao ser e aumentam com sua elevação; é a responsabilidade do
homem que faz sua dignidade e moralidade. Sem ela, não seria ele mais do que um
autômato, um joguete das forças ambientes: a noção de moralidade é inseparável
da de liberdade.” (p. 477)[12].
“A responsabilidade é
estabelecida pelo testemunho da consciência, que nos aprova ou censura segundo
a natureza de nossos atos” (P. 477).
É possível deduzir que a
consciência exerce o julgamento com base na bagagem moral intuitiva que carrega
aquele ser a muito tempo, e que passou por muitas depurações. Mas também é
justo dizer que várias alterações destes conceitos, ou até reformas, podem
acontecer ao longo de uma vida.
“O livre-arbítrio é, pois, a
expansão da personalidade e da consciência. Para sermos livres é necessário
querer sê-lo e fazer esforço para vir a sê-lo, libertando-nos da escravidão da
ignorância e das paixões baixas, substituindo o império das sensações e dos
instintos pelo da razão” (P. 478).
Eis que a vontade se apresenta
novamente como ponto fundamental para o progresso do Espírito, sendo o impulso
necessário para o início da Reforma Íntima e a consequente mudança para melhor
no que tange às aspirações morais.
“Até agora, tanto sob o ponto de
vista teológico como determinista, a questão [do livre-arbítrio] tinha ficado
quase insolúvel. Nem doutro modo podia ser, pois que cada um daqueles sistemas
partia do dado inexato de que o ser humano tem de percorrer uma única existência.
A questão muda, porém, inteiramente de aspecto se se alargar o círculo da vida
e se se considerar o problema à luz que projeta a doutrina dos renascimentos.
Assim, cada ser conquista a própria liberdade no decurso da evolução que tem de
perfazer” (p. 481).
A doutrina das vidas sucessivas
é, mais uma vez, importante na determinação de paradigmas evolucionários da
alma. É possível assumir que as produções teológicas e deterministas partiram
de um erro que tornava tudo um processo cego. Passaram a dar demasiada
importância à aspectos transitórios e materiais, tratando-os como definitivos e
concretos em ambiente limitado. A incapacidade de lidar com a temporalidade de
uma existência limitava esforços e capacidades.
Quando o elemento da
atemporalidade (várias existências) é claro, o Espírito adquire não só todo o
incentivo do Consolador, mas a disposição em aceitar e pensar em termos
atemporais, que reduz a relevância dos erros e vidam o progresso. Visão que
traz otimismo e esperança em nós mesmos, e também na Providência Divina.
As visões obscuras e viciadas do
passado, não resistem a este choque filosófico.
“O livre-arbítrio, a livre
vontade do Espírito exerce-se principalmente na hora das reencarnações.
Escolhendo tal família, certo meio social, ele sabe de antemão quais são as
provações que o aguardam, mas compreende, igualmente, a necessidade dessas
provações para desenvolver suas qualidades, curar seus defeitos, despir seus
preconceitos e vícios. Estas provações podem ser também conseqüência de um passado
nefasto, que é preciso reparar, e ele aceita-as com resignação e confiança,
porque sabe que seus grandes irmãos do Espaço não o abandonarão nas horas
difíceis” (p. 482).
Toda essa conjuntura elimina as
“fatalidades” ou o “acaso” das vidas e do futuro. O acaso é a desculpa que a
ignorância formula.
As concepções e renovações de
pensamento e idéias trazidas pela idéia de livre-arbítrio e reencarnação
deveriam conduzir até uma revisão das punições e das razões de criminalidade,
já que a igualdade legal (humana) pressupõe o nascimento como marco zero e a
maioridade legal como aptidão ao entendimento de todos os deveres e direitos.
“Muitas vezes o mau, o criminoso
não é, na realidade, mais do que um Espírito novo e ignorante em que a razão
não teve tempo de amadurecer. (…) É por isso que as penalidades infligidas
deveriam ser estabelecidas de modo que obrigassem o condenado a refletir, a
instruir-se, a esclarecer-se, a emendar-se. A sociedade deve corrigir com amor
e não com ódio, sem o que se torna criminosa” (p. 483).
Jesus exemplificou melhor do que
qualquer um, a capacidade de correção que o amor pode impulsionar.
“O Espírito só está
verdadeiramente preparado para a liberdade no dia em que as leis universais,
que lhe são externas, se tornarem internas e conscientes pelo próprio fato de
sua evolução. No dia em que ele se penetrar da lei e fizer dela a norma de suas
ações, terá atingido o ponto moral em que o homem se possui, domina e governa a
si mesmo” (p. 483).
Liberdade e moral caminham
juntas, mas só o Espírito moralmente elevado e depurado, pode aproveitar
integralmente as benesses da liberdade.
“No estado de ignorância, é uma
felicidade para ela [alma] estar submetida a uma direção. Mas, quando sábia e
perfeita, goza da sua liberdade na luz divina” (p. 484).
Nada mais apropriado de lembrar
após essa consideração de Denis, do que o ditado muito utilizado pelo ser
humano hoje: ‘A ignorância é uma bênção’. Nada mais ilustrativo de nossa
condição moral. Denis encerra o capítulo com uma frase que resume bem a questão
do livre-arbítrio e do ser humano em relação a ele.
“O homem é o obreiro de sua
libertação” (p. 485).
Encontramos mais esclarecimentos
no Livro dos Espíritos (V – LIVRE ARBÍTRIO).
843. O homem tem livre arbítrio
nos seus atos?
–Pois se tem a liberdade de
pensar, tem a de agir. Sem o livre arbítrio o homem seria uma máquina.
844. O homem goza do livre
arbítrio desde o nascimento?
–Ele tem a liberdade de agir,
desde que tenha a vontade de o fazer. Nas primeiras fases da vida a liberdade é
quase nula; ela se desenvolve e muda de objeto com as faculdades. Estando os
pensamentos da criança em relação com as necessidades da sua idade, ela aplica
o seu livre arbítrio às coisas que lhe são necessárias.
845. As predisposições
instintivas que o homem traz ao nascer não são um obstáculo ao exercício do seu
livre arbítrio?
–As predisposições instintivas
são as do Espírito antes da encarnação; conforme for ele mais ou menos
adiantado, elas podem impeli-lo aatos repreensíveis, no que ele será secundado
por Espíritos que simpatizem com essas disposições; mas não há arrastamento
irresistível, quando se tem a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é
poder. (Ver item 361).
846. O organismo não influi nos
atos da vida? E se influi, não o faz com prejuízo do livre arbítrio?
–O Espírito é certamente
influenciado pela matéria, que pode entravar as suas manifestações. Eis porque,
nos mundos em que os corpos são menos materiais do que na Terra, as faculdades
se desenvolvem com mais liberdade. Mas o instrumento não dá faculdades ao
Espírito. De resto, é necessário distinguir neste caso as faculdades morais das
faculdades intelectuais. Se um homem tem o instinto do assassínio, é
seguramente o seu próprio Espírito que o possui e que lho transmite, mas nunca
os seus órgãos. Aquele que aniquila o seu pensamento para se ocupar apenas da matéria faz-se semelhante ao bruto, e ainda pior, porque não pensa mais em se
premunir contra o mal. É nisso que ele se torna faltoso, pois assim age pela
própria vontade. (Ver item 367 e seguintes, Influência do organismo).
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