CAPÍTULO 4 - A TENTAÇÃO DE JESUS
1 Então foi levado Jesus pelo
Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. 2 E tendo jejuado quarenta
dias e quarenta noites, depois teve fome. 3 E chegando-se a ele o tentador, lhe
disse: Se és filho de Deus, dize que estas pedras se convertam em pães. 4
Jesus, respondendo-lhe, disse: Escrito está: Não só de pão vive o homem, mas de
toda a palavra que sai da boca de Deus. 5 Então tomando-o o diabo o levou à
cidade santa e o pôs sobre o pináculo do templo. 6 E lhe disse: Se és filho de
Deus, lança-te daqui abaixo. Porque escrito está: Que mandou os seus anjos que
cuidem de ti e eles te tomarão nas palmas, para que não suceda tropeçares em
pedra com teu pé. 7 Jesus lhe disse: Também está escrito: Não tentarás ao
Senhor teu Deus. 8 De novo o subiu o diabo a um monte muito alto; e lhe mostrou
todos os reinos do mundo e a glória deles. 9 E lhe disse: Tudo isto te darei,
se prostrado me adorares. 10 Então lhe disse Jesus: Vai-te Satanás. Porque
escrito está: Ao Senhor teu Deus adorarás e a ele só servirás. 11 Então o
deixou o diabo; e eis que chegaram os anjos e o serviram. Chegara a hora de o
Mestre iniciar a gloriosa tarefa que o trouxera à Terra. Antes, porém, medita
profundamente. E as vantagens materiais que a Terra lhe oferecia, apresentam-se
a seu espírito. Se ele se consagrasse à sua obra espiritual, era a pobrezas as
dificuldades, a humildade, que o aguardavam e, por fim, o martírio. Se usasse
seus dons para fins materiais, de certo teria boa mesa, evitaria as
dificuldades geradas pela incompreensão dos homens e conquistaria cargos
proeminentes no seio de sua nação. Jesus foi forte. Rejeitou tudo o que o mundo
lhe daria e devotou-se ao trabalho espiritual para o qual viera. Conquanto se
possa supor que Mateus exagera ao afirmar que o Mestre jejuou pelo espaço de
quarenta dias e quarenta noites, é fora de dúvida que o jejum favorece muito as
atividades do espírito, principalmente no tocante ao exercício da mediunidade.
Todo médium que nutrir vontade de tirar o máximo proveito de sua mediunidade e
obter os melhores resultados de seus trabalhos mediúnicos, deveria cultivar o
hábito de impor-se períodos de jejum. Certamente, jamais poderemos ombrear com
Jesus, o qual, dada sua perfeição espiritual, sabia sobrepor-se às coisas da
Terra, usando da matéria somente o necessário para manter-se. Um médium que
luta para sua evolução espiritual e deseja estar permanentemente preparado para
o desempenho de seu medianato, precisa saber praticar o jejum material e o
jejum moral. De três maneiras poderemos jejuar: 1ª — Jejum alimentar: Nos dias
de trabalho no Centro, lembrar-se de
preparar seu organismo para a prática da mediunidade. Nesses dias,
abster-se de alimentos pesados, dando preferência a alimentos leves e
alimentando-se moderadamente. E algumas horas antes do início das sessões,
abstenção completa, se possível, de alimentação. Este é um jejum material. 2ª —
Jejum moral: Um médium deve habituar-se a jejuar pelo pensamento, pela palavra
e pelos atos. Por este jejum, que é um jejum puramente moral, o médium evitará
pensamentos anti-cristãos, impuros e excessivamente materiais; não pronunciará
palavras que possam ferir seus semelhantes e não praticará atos contrários aos
ensinamentos de Jesus. A tudo anteporá seus deveres espirituais, evitando passeios
fúteis, festas e divertimentos profanos, todas as vezes em que tiver de
perfazer seus misteres mediúnicos. 3ª — Outro jejum moral: Outro jejum moral
que um médium deverá saber impor-se é o desprendimento das coisas materiais.
Nunca poderá cumprir satisfatoriamente seus deveres mediúnicos, o médium
excessivamente preocupado com os interesses terrenos. A ambição, a ganância, o
muito querer acumular os bens da terra, perturbam o médium, atraindo para junto
dele espíritos inferiores, que interferem maleficamente em seus trabalhos
espirituais. Saber jejuar das coisas terrenas, em benefício de sua mediunidade,
é o primeiro passo que um médium dará para a garantia do bom êxito de sua
tarefa na seara de Jesus. Este trecho, em que Mateus simbolicamente comenta as
tentações sofridas por Jesus, encerra profunda lição para os estudiosos do
Evangelho e, principalmente para os médiuns. Quantos médiuns há que sucumbiram
às tentações, trocando os dons divinos por algumas moedas? Quando as tentações
materiais se apresentarem a um médium, recorde-se ele das tentações sofridas
pelo Mestre e, como Jesus, responda varonilmente: Nem só de pão vive o homem.
As tentações mais comuns que se apresentam aos espíritos que se encarnam na
terra, podem ser agrupadas em três classes: 1ª — A tentação dos gozos
materiais- 2a — A tentação de uma vida fácil, livre de cuidados e de
dificuldades. 3ª — A tentação da riqueza e do poder. Jesus, com sua fortaleza
de alma, nos ensina como reagirmos resolutamente contra essas tentações.
Precavendo-nos contra a tentação dos gozos materiais, lembra-nos de que a
palavra divina, isto é, os mandamentos de Deus, quando bem observados,
constituem gozos puros que enchem o coração de felicidade. Contra o desejo que
frequentemente nos assalta de vivermos uma vida fácil, avisa-nos de que não
devemos tentar a Deus. Os trabalhos, os suores, as amarguras e as desilusões
são oportunidades benditas de redenção e de progresso. Se insistíssemos para
com o Senhor e ele nos concedesse uma vida isenta de cuidados, estacionaríamos
lamentavelmente. Chegaria o dia em que o tédio se apossaria de nós e
suplicaríamos ao Altíssimo que semeasse nosso caminho de pedras e de tropeços
para que, por meio de rudes trabalhos, pudéssemos progredir. Se a ambição do
mando, o orgulho do poder e a glória da riqueza ofuscarem nosso espírito
tenhamos em mente a lição de Jesus em suas tentações. Acima de tudo, veneremos
a Deus, nosso Pai, e o sirvamos lealmente. As coisas do mundo são efêmeras,
duram muito pouco e costumam precipitar em séculos de sofrimentos expiatórios
quem as adora excessivamente. Diabo ou Satanás; é a designação que se aplica à
coletividade dos espíritos ignorantes que se comprazem no mal. Inspiram aos
homens pensamentos malévolos e os secundam em todas as ações más. Para
repeli-los devemos cultivar bons pensamentos, viver uma vida pura e
fortificarmo-nos com orações diárias. Um dia essa coletividade desaparecerá do
ambiente terreno, porque todos os espíritos que a integram, se evangelizarão. E
depois de evangelizados farão parte da coletividade do Espírito Santo.
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