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Redirecionamento

domingo, 14 de agosto de 2016

DOUTRINÁRIA DE HOJE (14/08 - DOMINGO - 16:00): "O MANCEBO RICO" DO LIVRO PRIMÍCIAS DO REINO PELO ESPÍRITO DA SRA. AMÉLIA RODRIGUES – PALESTRANTE: JAIRO MOREIRA


O momento era de profunda significação. Sabia, por estranha intuição, que um dia defrontaria a Realidade, e a encontrava agora. 
O apelo pairava vibrando em derredor: - “Vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem, e segue-me”. 
Aquela voz penetrava como um punhal afiado e impregnava qual perfume de nardo. 
Havia um magnetismo inconfundível naqueles olhos severos e profundos como duas estrelas engastadas na face pálida do amanhecer. 
Tinha sede de paz. 
Embora repousasse em leito de madeiras preciosas incrustados de ébano e lápis-lazúli, se banqueteasse em repastos opíparos, cuidasse do corpo com massagens de óleos e ungüentos raros, envolvendo-o em tecidos de linho leve, e suas arcas estivessem abarrotadas de gemas e ouro, sabia-se infeliz, sentia-se infeliz. Faltava-lhe ALGO que não se consegue facilmente. 
Hesitava, no entanto. 
Sua vivenda era luxuosa, seus pertences valiosos e vazio o seu coração. 
Confragia-se e angustiava-se, ignorando as nascentes da melancolia renitente que lhe dissipava sonhos e esperanças sob guante de inenarrável amargura. 
Buscava as competições em Cesaréia, todavia ignorava se essa busca representava uma realização ou fuga. 
Agora, pela primeira vez, sentia-se arrebatado. 
A meiguice e a ordem daquela vez, enunciada por aquele Homem, ecoavam como cascatas em desalinho nos abismos do espírito. 
Interiormente gritava: “Irei contigo, Senhor, mas...” 
Hesitava, sim, e a hora não comportava dubiedades. 
Todo àquela hora era importante,; mais do que isso: vital! 
- Permite-me primeiro – conseguiu articular, vencendo a emoção que o transfigurava – competir em Cesaréia, logo mais, disputando para Israel os triunfos dos jogos... 
-Não posso esperar. O Reino dos Céus começa hoje e agora para o teu espírito. Não há tempo a perder. 
- Aguardei muito essa ocasião e ela se avizinha, com a chegada do período das competições... Exercitei-me, contratei escravos que me adestraram... aos partos comprei, por uma fortuna, duas parelhas de fogos cavalos... os jogos estão próximos... 
- Renuncia, e segue-me! 
Quem era Ele, que assim lhe falava? Que poder exercia sobre sua vontade? Por qual sortilégio o dominava?!... Gostaria de fugi ou deixar-se arrastar, estava perturbado; ignorada sofreguidão o aniquilava... 
A horizontalidade das aflições humanas contemplava a verticalidade da sublimação divina: o cotidiano deparava com o infinito; o vale fitava o abismo das alturas e se perdia na imensidão. 
O homem e o Filho do Homem se defrontavam. 
O diálogo parecia impossível, reduzindo-se a um monólogo atormentante para o moço diante daquele Homem. 
Vencendo irresistível temor, continuou o príncipe afortunado: 
- Não receio dar o que possuo: dinheiro, ouro, gemas, títulos, se possível, pois sei que estes se gastam mui facilmente, mas... 
- ...Dá-me a ti próprio e eu te oferecerei a ventura sem limite. 
Que alto prêmio! Que pesado tributo! – pensou desanimado. 
Era muito jovem e muitos confiavam nele. Possivelmente Israel lucraria com os seus lauréis e triunfos. Príncipe, tinha pela frente as avenidas do poder a que se afervorava, PODER que no momento se destituída de qualquer valor. 
Os vens, poderia ofertá-los, sim. Porém a fortuna da juventude, os tesouros vibrantes da vaidade atendida e dos caprichos sustentados, as honras de família resguardadas pela tradição, os corifeus agradáveis e bajuladores, oh! seria necessário renunciar-se a isso tudo? – interrogava-se, inquieto. 
- Sim! – respondeu-lhe, sem palavras, com os olhos fulgurantes. 
Sofria naqueles minutos a soma dos sofrimentos que experimentara a vida toda. 
O ar cantava leves murmúrios enquanto as tulipas do campo teciam um manto sutil, rescendendo aromas. 
O Rabi, em silencio, aguardava. E ele, em perplexidade, lancinava-se. 
O diálogo tornara-se realmente impossível. 
Subitamente, o príncipe de qualidade, num átimo de minuto, lembrou-se que amigos o aguardavam na cidade. Compromissos esperavam-no. Deveria debater os detalhes finais para a corrida na grande festa da semana entrante. 
Acionado por estranho vigor, que dele se apossou repentinamente, fitou o Messias sereno e triste, balbuciando com voz apagada: 
- Não posso. Não posso seguir-Te agora... Perdoa-me, se me amas! 
E saiu quase a correr. 
O Mestre sentou-se e se encheu de profundo sofrimento. 
Era assim, sempre assim que Ele ficava após a deserção dos convidados ao Banquete da Luz. A expressão de mansuetude e perdão que lhe brilhava nos olhos mergulhava em lágrimas, agasalhada em leves tons de amargura. 
Assim O encontraram os discípulos. Interrogado, respondeu: 
- “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas”! 
Uma semana depois Cesaréia era a capital do ócio, do prazer. 
Ao som alegre de trompas e fanfarras começavam as festas públicas. 
As quadrigas estão na linha de partida. Os fogosos corcéis, adquiridos aos partos, oriundos da Dalmácia, de Tiro, Sidon e da Arábia, empinam, lustrosos, ajaezados. Ao sinal dispram, sob estrondosa ovação. 
Chicotes vibram no ar, mãos firmes nas rédeas, os guias e condutores dão velocidade aos carros frágeis. A celebridade prende a respiração em todos os peitos. 
A expectativa fala sem voz na pulsação da tarde ardente e empoeirada. 
Numa manobra menos feliz, um carro vira e um corpo tomba na arena, despedaçado pelas patas velozes, em disparada. 
O moço rico sente as entranhas abertas, o suor e o sangue em pastas de lama, a respiração esterotrada... 
Enquanto escravos precipites arrastam-no na pista, foge mentalmente a cena brutal que o esmaga, e entre as névoas que lhe sombreiam os olhos parece vê-LO. 
Silenciando os gritos na concha acústica tem a impressão de escutá-LO. 
- Renuncia a ti mesmo, vem, e segue-ME. 
- Amigo!... 
Dois braços o envolvem veludosos e transparentes. 
Apesar da face deformada e lavada pelas lágrimas, o suor e o sangue, ele dá a impressão de sorrir. 

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