15. Diálogo Sobre Ilusão
“Rainha entre os homens, como
rainha julguei que penetrasse no reino dos céus! Que desilusão! Que humilhação,
quando, em vez de ser recebida aqui qual soberana, vi acima de mim, mas muito
acima, homens que eu julgava insignificantes e aos quais desprezava, por não
terem sangue nobre!” – Uma rainha de França. (Havre, 1863) O Evangelho Segundo
Espiritismo Capítulo 11 – item 8 O que são as ilusões? Definamos ilusão como
sendo aquilo que pensamos, mas que não corresponde à realidade. São percepções
que nos distanciam da verdade. Existem em relação a muitas questões da vida,
tais como metas, cultura, comportamento, pessoas, fatos. A pior das ilusões é a
que temos em relação a nós: a auto ilusão. Qual a causa das ilusões? As ilusões
decorrem das nossas limitações em perceber a natureza dos sentimentos que criam
ou determinam nossos raciocínios. Na matriz das ilusões encontramos carências,
desejos, culpas, traumas, frustrações e todo um conjunto de inclinações e tendências
que formam o subjetivo campo das emoções humanas. Por que a senhora citou que a
auto ilusão é a pior das ilusões? O iludido pensa muito o mundo “negando”
sentí-lo, um mecanismo natural de defesa face às dificuldades que encontra em
lidar com suas emoções. Esconde-se atrás de uma imagem que criou de si mesmo
para resguardar autoridade social ou outro valor qualquer que deseje manter. O
objetivo da reencarna- ção consiste em desiludir-nos sobre nós mesmos através
da criação de uma rela- ção libertadora com o mundo material. Se não buscamos
essa meta então caminhamos para a falência dos planos de ascensão individual.
Conforme a resposta anterior, o iludido esconde-se de quê? De si mesmo. Criando
um “eu ideal” para atenuar o sofrimento que lhe causa angústia de ser o que é a
criatura foge de si e vive em “esconderijos psíquicos”. Mas, por que se esconde
de si mesmo? Devido ao sentimento de inferioridade que ainda assinala a
caminhada da maioria dos habitantes da Terra. Iludimo-nos através de um
mecanismo defensivo contra nossa própria fragilidade que, pouco a pouco, vamos
extinguindo. Negar o que se sente e o que se deseja e o objetivo desse
mecanismo. Uma forma que a mente aprendeu para camuflar o sentimento de
inferioridade da qual o espírito se conscientizou em algum instante de sua
peregrinação evolutiva. Então, iludimo-nos para nos sentirmos um pouco
melhores, seria isso? auto ilusão é aquilo que queremos acreditar sobre nós
mesmos, mas que não corresponde à realidade do que verdadeiramente somos, é a miragem
de nós próprios ou aquilo que imaginamos que somos. Uma vivência psí- quica
resultante da desconexão entre razão e sentimento. É a crença na imagem
idealizada que criamos no campo mental. É aquilo que pensamos que somos e
desejamos que os outros creiam sobre nós. Nós espíritas, temos ilusões?
Responderei com clareza e fraternidade: sim, muitas ilusões. O iludido, quando
ambicioso, atinge sem perceber as raias da usura; Quando dominador, chega aos
cumes da manipulação; quando vaidoso, guinda-se aos pântanos da supremacia
pessoal; quando cruel, atola-se ao lamaçal do crime; quando astuto, atira-se às
vivências da intransigência; quando presunçoso, escala os cumes da arrogância;
e, mesmo quando esclarecido espiritualmente, lança-se aos pícaros do exclusivismo
ostentando qualidades que, muita vez, são adornos frágeis com os quais esnobam
superioridade que supõem possuir. Poderia dizer a nós, espíritas, algo sobre
nossas ilusões? Existe uma tendência à autossuficiência entre os depositários
do conhecimento espírita. Discursam sobre a condição precária em que se
encontram assumindo a condição de almas carentes e necessitadas, todavia,
diametralmente oposto a isso, agem como se fossem “salvadores do mundo” com
todas as respostas para a humanidade. Essa incoerência na conduta é provocada
pela ilusão que criaram do papel do espírita no mundo... O espiritismo é
excelente, nós espíritas, nem tanto... Nossa condição real, para quem deseja
assumir uma posição ideal perante si mesmo, é a de almas que apenas começamos a
sair do primitivismo moral. Alegremo-nos por isso! Essa autossuficiência seria
orgulho? O orgulho promove essa condição, é a mais enraizada manifestação da
ilusão, é a ilusão de querer ser o que imaginamos que somos. Essa é a pior
ilusão, a autoimagem falsa e superdimensionada de nós mesmos. Essa auto ilusão é
sustentada por uma “cultura de convenções” acerca do que seja ser espírita, um
resquício do velho hábito religioso de criar “estampas” pelas quais serão
reconhecidos os seguidores de alguma doutrina. Nesse caso, a ilusão
desenvolvida chama-se “ideia de grandeza”. Muitas pessoas desejariam sair
prontas para testemunho após pequenos exercícios de espiritualização no
centro espírita, entretanto, por ignorarem sua real condição espiritual, fazem
da casa doutriná- ria um templo de aquisição da angelitude imediata. Querem
sair prontos e perfeitos das tarefas e estudos, quando o objetivo de tais
iniciativas é capacitar de valores intelecto-morais para repensar caminhos e
encontrar respostas para as encruzilhadas da alma, nas refregas da existência.
O que é essa autoimagem falsa? Uma construção mental que se torna a referência
para nossas movimentações perante a vida. É uma cristalização mental, uma
irradiação que cria uma rotina escravizante nos sentimentos permitindo-nos
viver somente as emoções em uma “faixa de segurança”, a fim de não perdermos o
status da criatura que supomos ser e queremos que os outros acreditem que
somos. O que pensamos sobre nós, portanto, determina a imagem mental indutora
dos valores íntimos. Se o raciocínio sofre distorções da ilusão, então
viveremos sem saber quem somos. Como é construída essa autoimagem? Através das
vivências intelecto-afetivas de todos os tempos dessa criação. Onde ela
permanece? No corpo mental. Sua maior expressão é conhecida pelas operações do
departamento da imagina- ção no reino da mente. Quer dizer que além da
autoimagem temos um “eu real”, diferente do “eu crístico”, que ainda não
conhecemos? Sim. Temos um “eu real” que estamos tentando ignorar há milênios. Essa
“parcela” de nós é a “sombra” da qual queremos fugir. Todavia, o contato com
essa “zona incons- ciente” revela-nos não só motivos de dor e angústia mas
igualmente, a luz que ignoramos estar em nossa intimidade à espera de nossa
vontade para utilizá-la. Aqui chamamos a atenção dos nossos parceiros de ideal
para o cuidado com o processo da reforma interior. Existe muita idealização
confundindo aprendizes que imaginam estar dando “saltos evolutivos” em direção
a esse “eu real”, entretanto, em verdade, estão se movimentante na esfera do
“eu idealizado”... Poderia explicar mais profundamente essa questão dos “saltos
evolutivos”? É um tipo de ilusão que normalmente assalta os religiosos de todos
os tempos. Imaginam- -se muito melhorados a partir do contato com alguma
diretriz ou prática religiosa e, então, passam a viver uma vida idealizada, um
projeto de “vir-a-ser”. É uma ilusão de que se está fazendo a renovação, apenas
uma idealização. Uma forma de comportar desconectada do sentimento, um adorno
moral para nossas atitudes; é o discurso sem a vivência. O nome mais conhecido
deste comportamento é puritanismo. Como distinguir idealização de mudança
verdadeira? Na idealização pensamos o que somos e, como consequência, vivemos o
que gostaríamos de ser, mas ainda não somos. E o hábito das aparências. Na
reforma íntima sentimos o que somos, e como consequência vivemos a realidade do
que somos com harmonia, ainda que nos causem muitos desconfortos. É o processo
da educação paulatina. Na idealização vive-se em permanente conflito por se
tratar, em parte, de uma negação da realidade, enquanto na reforma autêntica a
criatura consegue penetrar os meandros dos “sentimentos-causais”, encontrando
uma convivência pacífica consigo e aceitando-se sem se acomodar em direção a melhoras
mensuráveis. Como vencer nossas ilusões? Dessa pegando da falsa autoimagem
falsas que fazemos de nós mesmos. Desapaixonando-se do “eu”. Para isso somente
autoconhecimento. Havendo esse desapego, conseguiremos libertar os sentimentos
para novas experiências com o mundo e consequentemente com nosso “eu profundo”.
Isso desencadeará um processo de resgate de nós mesmos, venceremos a condição
de reféns de nosso passado escravizante, saindo da “roda viciosa das emoções”
perturbadoras, quais sejam o medo, a culpa e a insegurança. O processo da
desilusão custa sorver o fel da angústia de saber quem somos, e carregar o peso
do sacrifício de cuidar dessa personalidade nova que renasce exuberante.
Independente do quão doloroso seja, é preferível experimentá- la no corpo a ter
que purgá-la na vida espiritual. Assinalemos alguns exercícios de desapego
dessa paixão que nutrimos pela imagem irreal que criamos de nós mesmos: • Fazer
as pazes com as imperfeições. • Abandonar os estereótipos e aprender a se
valorizar com respeito. • Descobrir sua singularidade e vivê-la com gratidão. •
Coragem para descobrir seus desejos, tendências e sentimentos. • Exercitar a
autoaceitação através do perdão. • Munir-se de informações sobre a natureza de
suas provas. • Aprender a ouvir com atenção o que se passa à sua volta. •
Dominar o perfeccionismo nutrindo a certeza de que ser falível não nos torna
mais inferiores. • Valorizar afetivamente as suas vitórias. • Descobrir
qualidades, acreditar nelas e colocá-las a serviço das metas de crescimento.
Paulo, o apóstolo da renovação, nos indica uma sublime recomendação que nos
compele a meditar na natureza de nossos sentimentos em torno da mensagem do
amor; sugerimos que esse seja nosso roteiro na vitória sobre as ilusões: “olhai
para as coisas segundo as aparências? Se alguém confia em si mesmo que de
Cristo, pense outra vez isto consigo”... II Coríntios, 10: 7
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